sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Vantagem de Bolsonaro aumenta a crise no covil do PT

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputam segundo turno para Presidência Foto: Miguel SCHINCARIOL e Daniel Ramalho / AFP
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputam segundo turno
Foto: Miguel SCHINCARIOL e Daniel Ramalho / AFP

Dirigentes do partido se trancaram em seguidas reuniões para tentar decifrar o fenômeno e, mais do que isso, garimpar um flanco na campanha do rival que possa levar a uma reversão do quadro na etapa final da disputa.
Por enquanto, a conclusão é que o partido precisa mudar a pauta da eleição. Como? Ainda não está claro. Segundo os petistas, Lula dominou as discussões eleitorais até 6 de setembro, quando Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora (MG). Desde então, só houve espaço para o capitão da reserva. Seja para o seu drama enquanto esteve no hospital, seja para suas declarações polêmicas em entrevistas.
A tropa de Bolsonaro nas redes sociais, principalmente no WhatsApp, deixou os petistas perplexos. “Nós fizemos uma campanha analógica, enquanto eles entraram totalmente na era digital. Eles têm um tecnologia que a gente não domina”, admite uma liderança da legenda.
Dirigentes do partido, que até dez dias antes da eleição afirmavam não ter nenhuma preocupação com as fake news, passaram a acusar Bolsonaro de agir deliberadamente para propagar as notícias falsas. Esse mecanismo teria sido fundamental para o candidato do PSL avançar nos votos lulistas das classes mais pobres. Nos corredores dos hotéis onde o PT tem realizado as suas reuniões, são inúmeras as teorias de dirigentes sobre como o candidato do PSL tem financiado essa ofensiva digital.
É ponto pacífico entre os petistas que a campanha falhou nas redes sociais no primeiro turno. Por enquanto, o que o partido definiu é que o PSOL, de Guilherme Boulos, uma das legendas que aderiram à campanha de Haddad no segundo turno, vai ajudar os petistas a se mobilizarem nas redes. A campanha quer tentar engajar os seus simpatizantes para desconstruir Bolsonaro, pregando a pecha de que o rival é um político tradicional por estar na Câmara há 27 anos e seguidor das velhas práticas como a de tentar eleger parentes.
Além de desarmar o candidato do PSL nas redes, o PT também terá de superar suas diferenças internas. Há uma rede de intrigas e guerra de poder entre dirigentes, parlamentares e coordenadores de campanha.
Na tarde da última terça-feira, num hotel da Zona Sul de São Paulo, localizado em frente ao Aeroporto de Congonhas, enquanto o candidato presidencial do PT, Fernando Haddad, em uma sala reservada,reunia-se com governadores do partido eleitos no primeiro turno, um dirigente petista exibia orgulhoso, no lobby, uma carta enviada ao ex-presidente Lula cerca de duas semanas antes da eleição. Na mensagem transmitida por meio de advogados para o ex-presidente em sua cela em Curitiba, ele apontava a necessidade de Haddad antecipar a tática prevista para o segundo turno de partir para o ataque a Bolsonaro. Por medo de favorecer Geraldo Alckmin (PSDB), o artifício só foi usado depois que as pesquisas apontaram o crescimento do candidato do PSL no último dia de propaganda eleitoral.
Para esse dirigente, não será com acenos ao centro, como Haddad tem demonstrado desde domingo, que o partido irá roubar votos de Bolsonaro. O caminho do sucesso, na sua avaliação, é buscar os votos lulistas dos mais pobres com fortes referências ao ex-presidente e um discurso em favor do emprego. “O Haddad tem de ser duro, ir para cima. Endurecer. Não é característica dele, mas não tem outro jeito ”, afirma o petista,
A esperança de pessoas próximas a Haddad é que o senador eleito pela Bahia Jaques Wagner, com suas malemolência e experiência política, consiga colocar ordem na casa. O ex-ministro desembarcou em São Paulo na tarde de segunda-feira. Foi direto para o hotel onde Haddad se reunia com coordenadores da campanha e, mais tarde, daria uma rápida entrevista ao Jornal Nacional .
Depois da entrevista, Haddad convidou Wagner, o tesoureiro do PT, Emídio de Souza, e Márcio Macedo, um dos vice-presidentes da legenda, para prosseguirem as conversas em sua casa, localizada no bairro do Planalto Paulista, a poucos quilômetros dali. Macedo e Emídio são hoje os dois integrantes da executiva petista mais próximos do presidenciável. Enquanto esperavam o carro, os dirigentes cruzaram com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que chegava sozinha ao hotel, onde estava hospedada. Ela não os acompanhou até a casa de Haddad.
Sergio Roxo, O Globo