JOINVILLE e BLUMENAU
É só deixar a porta aberta que eles começam a chegar: buscam um santinho, um adesivo, uma camiseta, uma ficha de filiação. São eleitores de Jair Bolsonaro (PSL), que lotam o comitê do partido em Joinville, no norte catarinense, onde 72% da população votou no candidato no primeiro turno.
"A gente quer uma mudança", diz a comerciante Hilda Barbosa, 53, que se aproximou da porta para pedir um santinho, sem sucesso --o material estava esgotado. Vendedora de salgadinhos numa cidade vizinha, ela reconhece que "nenhum candidato é perfeito". "Mas os outros estão lá há muitos anos. Tem que mudar."
O capitão reformado teve em Santa Catarina seu melhor desempenho eleitoral no primeiro turno: recebeu 65,8% dos votos do estado.
No norte catarinense, que a Folha visitou nesta terça (9), o apoio se estende a todos os bairros e estratos sociais, e é motivado por desejos de mudança, menos impostos, menos corrupção, mão firme contra a criminalidade e até valores familiares e de patriotismo. "Somos conservadores, e isso não é um estigma", diz o vereador do PSL Ricardo Alba, de Blumenau, eleito o deputado estadual mais votado do estado.
"É um ideário cristão, patriota, que quer ver o Brasil desenvolvido. Nós toleramos diferenças, mas queremos ver nossos valores preservados. Não tem nada de errado nisso."
Os motivos de identificação com Bolsonaro são variados. "Para mim, particularmente, foi a questão da família", comenta a empresária Méruli Furquim, 30, evangélica e atual vice-presidente do PSL em Joinville.
"Admiro quando ele fala da criação", diz o seu marido, o também empresário Jackson Furquim, 35. "Fui criado com limites, educação, carinho, e foi isso que formou meu caráter."
O serralheiro Jarbas de Campos Junior, 46, que mora em um bairro humilde de Blumenau, diz que seria "rígido igual a Bolsonaro nessa parte do crime", entre outros motivos para votar no candidato.
"Precisa mudar. É muito Bolsa Família, vale-gás. Todo mês tenho que depositar um pouquinho do meu salário para poder dar gás lá no Nordeste."
A falta de papas na língua e o estilo "grosseirão" são outros fatores de identificação com o capitão reformado. Mesmo quando questionados sobre comentários ofensivos do candidato contra negros e mulheres, ou entrevistas no passado em que ele afirmou que iria fechar o Congresso, os eleitores têm argumentos: afirmam que as falas foram descontextualizadas, e que ele já não representa certas bandeiras que defendeu anteriormente.
A onda pró-Bolsonaro se alastrou entre outros candidatos do PSL em Santa Catarina: o partido conseguiu levar seu candidato ao governo ao segundo turno, com uma campanha de apenas sete segundos de TV, e elegeu seis deputados na Assembleia, formando a segunda maior bancada da Casa.
O movimento também "converteu" aqueles que, em outras eleições, votaram no PT. "Era direto: 13, 13, 13. Esse ano, não; teve 17", diz o pernambucano Josimar Viana, 48, que mora há 11 anos em Blumenau. "No 13 não dá para votar, por causa dessas 'roubarias'."
Para o professor Nelson Garcia Santos, que leciona sociologia na Universidade Regional de Blumenau, a votação de Bolsonaro é reflexo de uma cultura conservadora, característica da região, e formou uma "bolha" em prol do candidato.
"Aqui, é muito forte a questão dos bons costumes, da regra, da vida pelo trabalho", comenta. "É uma bolha. E quem está dentro da bolha acaba seguindo os outros."
Quem não apoia Bolsonaro reclama de hostilidade. Um comerciante do centro de Joinville, que preferiu não se identificar, diz que não conversa mais a respeito para não criar confusão e porque a cidade é "reacionária e machista".
O blumenauense Adriano Pereira, único vereador do PT na cidade e candidato derrotado à Assembleia, não fez menção ao partido em seu material eleitoral. Ele afirma que o clima na cidade é "horrível".
"Você posta qualquer coisa, os caras já te xingam de ladrão, bandido, quadrilheiro. Te denigrem, te difamam."
Os apoiadores de Bolsonaro dizem que também são vítimas de intolerância. Um outdoor em prol do candidato, instalado no início do ano, foi pichado em Joinville --com a palavra "fascista". Alguns relatam que tiveram seus carros, adesivados com a foto de Bolsonaro, riscados.
"Eles falam em democracia e fazem isso?", comenta Méruli, que diz receber olhares tortos e ofensas pelas ruas.
Articulados em grupos de WhatsApp e comunidades no Facebook, os eleitores de Bolsonaro querem "desconstruir preconceitos" contra o candidato neste segundo turno. A principal estratégia é fazer eventos presenciais, para encorajar outros a assumir o candidato. Esperam atingir votações na casa dos 90%.
E se o governo de Bolsonaro não trouxer a esperada mudança? "Não temos político de estimação", diz Furquim. "Somos os eleitores mais críticos; seremos os primeiros a reclamar."