quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Míriam Leitão: "Investidores recorrem ao autoengano ao apostar em Bolsonaro reformista". Preferes Lula e sua organização criminosa, nega?

Com nova pesquisa eleitoral, dólar cai abaixo de R$ 3,85. Bolsa sobe mais de 2%. Eletrobras e Petrobras têm fortes altas


A bolsa sobe e o dólar cai na semana, seguindo as pesquisas que apontam o crescimento de Jair Bolsonaro. Até recentemente, ele era olhado com desconfiança pelos investidores. Mas agora é tido como o reformista, embora em toda a sua vida parlamentar tenha votado contra as reformas. Os principais articuladores políticos do candidato se posicionaram contra a mudança na Previdência há poucos meses. O mercado está tentando se enganar.

Na dinâmica dos investidores, é preciso definir o que se deseja e o oposto disso. O PT, em segundo lugar nas pesquisas, se coloca abertamente contra as reformas, destacou isso em seu programa de governo, e avisou que vai revogar todas as mudanças feitas por Temer. O texto é ambíguo, defende que o crescimento da economia pode reduzir o déficit do sistema previdenciário. Mas o compromisso da campanha de Bolsonaro com as reformas é muito incerto.


Paulo Guedes, o economista da campanha, defende as reformas, ainda que não tenha apresentado como vai aplicar suas ideias. O programa de governo também segue essa linha. Mas Bolsonaro frequentemente se contrapõe ao que está escrito. Os operadores políticos da campanha, Onyx Lorenzoni e Major Olímpio, foram absolutamente contra a proposta de reforma da Previdência na Comissão da Câmara. Nisso, ficaram ao lado do PT. Onyx propõe um aumento de gastos no sistema. A ideia é que a Previdência pague até para quem não está aposentado e tenha mais de 55 anos. 

Nessa campanha, o partido de Haddad foi mais para a esquerda para consolidar a sua base, não fez acenos ao centro. Ele voltou no tempo. O discurso se assemelha ao de 2002, antes da Carta aos Brasileiros. 

Mas pelo lado de Bolsonaro, o que se tem é uma grande confusão. Até porque não se pode esclarecer as dúvidas. O economista está em silêncio, o candidato à vice também recebeu ordens para falar menos. Bolsonaro passou quase um mês hospitalizado, em ambiente controlado. Grava vídeos sem ser contestado. As dúvidas persistem, mas o mercado quer ver em Jair Bolsonaro um candidato reformista. Ao longo da vida dele e de seus assessores, o que se viu foi o contrário, a defesa do corporativismo.

O mercado tenta simplificar a conjuntura política do Brasil, mas ela é extremamente complexa.
O Globo