Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que o crescimento nas pesquisas de intenção de voto do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro , na esteira das manifestações #EleNão , que levaram às ruas milhares demulheres contra o ex-capitão, demonstra que o protesto fez barulho, mas não teve impacto sobre o eleitorado bolsonarista. Para esses especialistas, os protestos se mantiveram restritos a um segmento específico da sociedade: mulheres de classe média. Eles avaliam que a questão de gênero não é uma bandeira que atinge, por exemplo, mulheres dos extratos mais baixos da população, onde a questão do desemprego e renda são muito mais importantes.
— São mulheres da elite que estão se manifestando contra ele. É um público que está fazendo barulho, mas não é representativo da maioria do eleitorado. O Bolsonaro cresceu mais entre mulheres pobres do Nordeste, que se importam em melhorar suas condições econômicas. Entre elas a questão material se sobrepõe à questão moral — avalia Jairo Pimentel, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas.
O Ibope e o Datafolha divulgados na seguna-feira e nesta terça registram um crescimento significativo de Bolsonaro entre as mulheres e no Nordeste. Entre elas, o ex-capitão cresceu seis pontos, segundo o Ibope. Mesmo índice de crescimento que obteve no Nordeste, reduto eleitoral do ex-presidente Lula. No eleitorado geral, Bolsonaro tem 31% das intenções de voto, ante a 21% das intenções do petista Fernando Haddad, segundo colocado. No Datafolha, os números são quase iguais: 32% contra 21%.
O cientista político Vitor Marchetti concorda com a avaliação do colega sobre o alcance limitado dos protestos contra Bolsonaro diante de questões mais prementes que assolam a maioria do eleitorado brasileiro, especialmente a econômica. Mas entende que as manifestações põem luz sobre a resistência ao candidato do PSL, movimento que pode se espalhar pelo eleitorado de outros candidatos.
— As manifestações #EleNão foram muito focadas na bandeira identitária, quando o Brasil tem questões graves de desemprego, renda. A bandeira identitária não é a da periferia. As manifestações por outro lado mostraram que a resistência a Bolsonaro pode ser grande e forte, podendo gerar um movimento que se espalha entre o eleitorado de outros candidatos — diz.
Marchetti não acredita, no entanto, que essa resistência tende a ser forte o suficiente para barrar a liderança de Bolsonaro. O cientista político lembra que o histórico de eleições do Brasil aponta para a confirmação, ao fim do segundo turno, do cenário que se apresenta ao fim do primeiro turno. O ex-capitão tem se fortalecido em todos os cenários de segundo turno.
— As manifestações mostraram que a resistência a Bolsonaro tem potencial de ser grande e forte, podendo gerar um movimento que se espalha entre o eleitorado de outros candidatos. Mas os cenários de segundo turno indicam que essa resistência não tende a ser grande o suficiente para impedir a eleição dele. As pesquisas e trackings têm mostrado claramente o avanço de Bolsonaro e estagnação de Haddad — apontou.