A parceria entre Embraer e Boeing prevê a instalação de uma fábrica nos Estados Unidos para a montagem do cargueiro militar KC-390 com participação de empresas americanas, conforme antecipou o Valor Econômico. Segundo integrantes da equipe econômica, o governo brasileiro avalia que a unidade é necessária para consolidar o negócio e alavancar as vendas da Embraer no mercado americano, que é repleto de restrições. Isso também seria uma forma de reforçar a produção, pois a nova fábrica se somaria à já existente no Brasil, preservando empregos.
Também não há restrições do Ministério da Defesa e do Comando da Aeronáutica, que estão à frente das negociações. Os técnicos lembram que a Embraer já fez um movimento semelhante com o avião de ataque Super Tucano. Foi instalada uma fábrica na Flórida para que a aeronave fosse comercializada nos Estados Unidos.
As tratativas em torno do acordo entre as duas companhias evoluíram nas últimas semanas e estão na fase final de formulação de documentos. Os balanços estão sendo avaliados para definir o preço dos ativos envolvidos na operação.
Não há um prazo legal para que o negócio seja apresentado ao presidente Michel Temer, mas as duas empresas têm pressa em formalizar a operação ainda este ano para evitar um possível retrocesso com a mudança de governo.
Temer, disse um auxiliar, está acompanhando as negociações e, ao que tudo indica, deve aprovar o acordo. Isso só não aconteceria se a papelada não for entregue a tempo ou se surgirem fatos no acordo. Para o governo, o que é sagrado na parceria é a blindagem da divisão de defesa da Embraer.
A união entre as duas empresas prevê a criação de uma joint venture(parceria) para atuação na área comercial. Nesse arranjo, a Boeing teria 80% e pagaria US$ 3,8 bilhões. As áreas de defesa e de aviação executiva (jatinhos) ficariam sob o controle da Embraer.
Integrantes do governo argumentam que, dificilmente, a Embraer conseguirá sobreviver sozinha. Ela terá de buscar um sócio para ganhar musculatura a fim de continuar competindo no mercado internacional, principalmente depois que a canadense Bombardier, principal concorrente no segmento, e a europeia Airbus anunciaram uma parceria, em outubro de 2017. A empresa americana está de olho nos engenheiros e no potencial de vendas dos aviões da Embraer.
Autoridades governamentais reforçam ainda que Embraer e Boeing são duas empresas privadas. O governo brasileiro tem apenas 10% de participação da companhia nacional (via BNDESPar). O restante é diluído entre acionistas estrangeiros. Mas a União tem direito a uma classe especial de ações, denominada golden share , que dá poder de veto a decisões consideradas estratégicas na área de defesa.
A Embraer informou, em nota, que a ideia de uma segunda joint venturecom a Boeing para promover a venda do KC-390 já fazia parte do acordo fechado com a companhia americana em comunicado divulgado em 5 de julho. Uma fonte que acompanha as negociações diz que o plano de instalar uma fábrica nos EUA é uma alternativa para o futuro e que ela viabilizaria acesso a recursos mais baratos para pesquisa e financiamento.
Em nota, a Embraer também diz que não existem planos de desativação da linha de produção do KC-390 em Gavião Peixoto, cidade no interior de São Paulo.