quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Eliana Calmon deixa partido de Marina para apoiar Bolsonaro

Eliana Calmon, em 2011, quando era corregedora-geral do CNJ Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
Eliana Calmon, em 2011, quando era corregedora-geral do CNJ Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo

A ex-corregedora nacional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Eliana Calmon pediu nesta quinta-feira desfiliação da Rede, partido de Marina Silva , para apoiar o candidato à Presidência Jair Bolsonaro , do PSL. A juíza alcançou notoriedade após dar andamento a investigações sobre juízes durante sua passagem pelo cargo.

Nesta quarta-feira, após reunião que entrou pela madrugada, a Rede recomendou ao seus filiados que não destinem nenhum voto a Bolsonaro , "frente às ameaças imediatas e urgentes à democracia".
A ex-magistrada é a primeira baixa na Rede após a decisão tomada pela Executiva da sigla.
A conversa entre Eliana e Bolsonaro que definiu o apoio ocorreu na quarta-feira, no início da tarde. Os dois acertaram sua participação na campanha. Segundo ela, a atuação será principalmente de interlocução com o candidato sobre temas relacionados ao Poder Judiciário e a mulheres.
— Vai ser apenas de apoio, não vou me engajar, não vou para palanque. Não quero cargos, quero ter uma interlocução com o candidato e, na eventualidade dele sair vencedor, com o Presidente — disse.
Eliana Calmon afirmou que decidiu apoiar Bolsonaro após uma conversa em que tratou de dois temas com Bolsonaro: o combate à corrupção e a defesa das mulheres.
— Fiz umas ponderação das minhas bandeiras que considero imprescindíveis e ele concordou perfeitamente, dizendo que estava de acordo com os projetos dele — afirmou.
Eliana diz que participa de movimentos feministas e defende a legislação que aumente o número de mulheres na política, o salário de mulheres e a construção de creches. Questionada sobre as declarações de teor machista de Bolsonaro, a ex-magistrada minimizou.
— O que eu tenho visto em relação a taxação do candidato como machista me pareceu muito incipiente, uma discussão que ele teve com a então deputada Maria do Rosário. E em razão daquela altercação nasceu essa ideia de que ele é contra as mulheres. Não vi nenhum fato, episódio concreto, que não seja fake e não seja exagero que me fizesse dizer que ele é contra as mulheres, de forma que eu tenho que acreditar naquilo que eu acho concreto — disse.
Após o primeiro turno, a Rede foi convidada a integrar uma frente em torno da candidatura de Fernando Haddad. Segundo integrantes da Executiva essa possibilidade foi afastada na decisão de desta quarta-feira.
Em maio, Eliana foi informalmente convidada para ser candidata a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, mas recusou. À época, afirmou ao GLOBO, que considerava o presidenciável "muito radical".
— Ele é um homem que tem uma repercussão espetacular. Estamos numa situação tão difícil que é até complicado avaliar. Pessoalmente, acho o Bolsonaro uma pessoa muito radical. Tenho uma certa preocupação com esse radicalismo hoje no país, por ele ser um líder carismático, que aparece como um salvador da pátria. Mas eu disse que não estava interessada mesmo porque tenho meu escritório de advocacia — afirmou à época.
No início do ano, Marina Silva tentou convencer a ex-corregedora a ser candidata ao Senado ou à Câmara dos Deputados. Em 2014, pelo PSB, Eliana foi candidata ao Senado na Bahia.

Integrantes da Rede criticam método de decisão

Após a derrota da eleição e a falha em superar a cláusula de barreira, um dos pilares da organização do partido de Marina Silva está sofrendo algumas críticas internas. Integrantes do partido criticaram o chamado "consenso progressivo", forma pela qual a Rede toma suas decisões, incluindo a desta quarta-feira. O método pressupõe que a reunião só termine quando todos os integrantes concordem com o resultado final.
Na opinião de alguns dos participantes das reuniões dessa semana, o método tem gerado decisões sem força e deve ser revisitado. Os integrantes admitem que se tratam de um processo democrático, mas afirmam que se revelou impróprio para o sistema político brasileiro.
Em relação à decisão desta quarta, um grupo defendeu uma adesão mais explícita à candidatura de Fernando Haddad, o que não ocorreu. Outro grupo chegou a pregar a neutralidade. O meio-termo foi a liberação dos filiados e a recomendação de voto contra Bolsonaro.
— Gera decisões de um pensamento médio, que desagradam todos. A consequência é que o público acaba sem entender as decisões da Rede.
Dimitrius Dantas, O Globo