quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Grupo cearense faz IPO “secreto” em Nova York

Um grupo de empresários do Ceará está em Nova York esta semana para uma missão que costuma ser divulgada com alarde, mas que desta vez tem ares de segredo. Na manhã desta quarta-feira, os executivos acompanham o início das negociações das ações de sua companhia, a Arco, holding de educação, dona do sistema de ensino SAS.
Ontem, EXAME ouviu gestores e investidores brasileiros sobre a oferta. Parte se perguntou se o negócio estava de pé, dada a falta de notícias, parte se perguntou o que era a Arco.
A oferta inicial de ações (IPO), mal comunicada no Brasil, levantou 194,5 milhões de dólares. Cerca de 11,1 milhões de ações foram colocadas à venda, o que corresponde a 22,8% do capital da empresa. A precificação, anunciada na noite de terça-feira, estabeleceu o preço inicial de negociação de 17,50 para cada papel. Com isso, a companhia passa a valer 853 milhões de dólares. Os bancos coordenadores da oferta são Goldman Sachs, Morgan Stanley, Itaú BBA e BofA Merrill Lynch. 
O objetivo da captação, segundo Ari de Sá Neto disse em entrevista a EXAME em abril, é ter capital para ampliar a gama de cursos oferecidos e investir em tecnologia. No prospecto da oferta a empresa diz que sua missão é “transformar a maneira como os estudantes aprendem, entregando alta qualidade de educação em escala com base em tecnologia”.
O maior negócio da Arco hoje – e onde tudo começou – é o SAS, sistema de ensino usado por 405.000 alunos de 1.140 escolas de ensino básico, educação infantil e ensino médio. Criado em 2004 por Ari de Sá Neto, filho de Oto Cavalcanti, dono dos renomados colégios cearenses Ari de Sá, o SAS é referência em material didático e aprovação em vestibulares. A criação da holding, a Arco, no início do ano, foi um sinal de que a estratégia agora é abrir novas frentes de negócios. Uma aposta é no sistema de ensino bilíngue International School. Outras serão em cursos que ensinem as novas habilidades do futuro, como robótica e programação.
Desde 2014 a empresa tem como sócio o fundo americano General Atlantic. Foram dois aportes — no último, em meados de 2017, o fundo investiu 90 milhões de reais e aumentou de 20% para 26% sua participação na então SAS.
Segundo o prospecto de IPO, no primeiro semestre de 2018 a empresa faturou 195,1 milhões de reais, 43% a mais do que o mesmo período do ano passado, e lucrou 75,4 milhões de reais, aumento de 39%. Em 2017 as receitas somaram 244,4 milhões de reais (crescimento de 53% em relação a 2016) e o resultado líquido subiu 54%, para 75 milhões de reais.
O IPO quase secreto mostra que a empresa não está preocupa em vender ações para investidores brasileiros. E mostra também como as empresas nacionais, sobretudo as ligadas a tecnologia, estão mirando o mercado americano. A varejista Netshoes e a financeira PagSeguro já estrearam nos EUA Outra que se prepara é a também financeira Stone.
Segundo analistas, a onda de IPOs de empresas de tecnologia no exterior se deve à cultura já disseminada por lá de investir em ativos menos consolidados e com grande potencial. Nesta quarta-feira é a vez de a pouco conhecida Ari de Sá mostrar que tem mais oportunidades do que risco a oferecer.

 Naiara Bertão, Exame