Transparência, melhora da gestão pública e jornalismo bem embasado. A combinação é vista como um tripé interdependente pelo economista Gil Castello Branco, fundador da Associação Contas Abertas. Cobrindo orçamento público há décadas e pioneiro na defesa pela transparência da administração pública, Castello Branco comentou sobre a necessidade dos novos jornalistas estarem aptos a consultar as informações disponibilizadas a fim de melhorar a qualidade da política e do próprio jornalismo.
Palestrante na 29ª Semana Estado de Jornalismo, o fundador do Contas Abertas falou sobre o acompanhamento de gastos no dia a dia durante o painel Desafios da Eleição. Segundo ele, o desafio do jornalismo atual mudou, não sendo mais essencial cultivar fontes exclusivas como antes, o que cria uma oportunidade de desenvolvimento rápido para os jovens jornalistas.
“O jornalista de antigamente alcançava algum destaque porque acumulava, ao longo da vida, uma série de fontes que só ele tinha acesso. Hoje em dia isso mudou. A maioria das fontes está a dois palmos do nariz de qualquer pessoa. Vemos que cada vez mais os dados vêm enriquecendo matérias. Antes, tudo era muito embasado em conceitos e opiniões, mas hoje os dados tornam as matérias quase que indiscutíveis”, opina o economista.
Ainda de acordo com Castello Branco, além de embasar melhor os fatos noticiados, às consultas aos dados são essenciais para melhorar a qualidade da gestão pública e do voto do eleitorado, desempenhando uma função social.
“Essa avalanche de informação, se bem organizada, ajuda a melhorar a qualidade do voto, uma vez que as informações chegam ao público, e da gestão, porque é importante que o político sinta que está sendo acompanhado. Quanto mais informação tivermos, melhor gestão nós teremos”, afirmou.
Transparência na cobertura
O uso das informações públicas já resultou em coberturas importantes na opinião de Castello Branco. Recentemente, após a cobertura do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o Contas Abertas divulgou dados disponibilizados em portais públicos que mostravam a falta de investimentos no museu.
“É um caso em que os dados provaram que se trata de uma tragédia anunciada. Se a fagulha que ocasionou o incêndio tivesse vindo antes, teria acontecido do mesmo jeito. O que o Museu Nacional tinha para gastar era um valor inferior a um único contrato, firmado para a lavagem de 83 automóveis que atendem a 19 parlamentares, ou a troca de carpete do Senado Federal”, disse.
Confira alguns bancos de dados públicos indicados por Castello Branco:
SIGA Brasil – https://www12.senado.leg.br/orcamento/sigabrasil
Portal da Transparência – http://www.portaltransparencia.gov.br/
Carla Miranda, O Estado de São Paulo