CIDADE DO MÉXICO - Após uma campanha com recorde de políticos assassinados, Andrés Manuel López Obrador venceu a disputa pela Presidência no México, segundo resultados preliminares e pesquisas de boca de urna. Sua vitória já vinha sendo apontada em pesquisas anteriores ao pleito. Caso o resultado seja confirmado, será o primeiro presidente de esquerda do país em décadas, que enfrentará desafios para governar com estabilidade.
Com uma apuração manual, havia apenas a boca de urna logo após o fechamento das urnas às 20h locais (22h na Brasília. De acordo com a sondagem do “El Financiero" com Bloomberg, AMLO teve 49% dos votos e Ricardo Anaya, do direitista Partido de Ação Nacional (PAN), obteve 27% dos votos. Com 18% dos votos, o governista José António Meade, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), reconheceu a derrota logo após o resultado preliminar, e desejou êxito ao vencedor.
— As tendências não nos favorecem, foi Andrés Manuel López Obrador quem obteve a maioria — disse Meade, cujo partido integra a coalizão Todos por México. — Pelo bem do México, desejo muito êxito do novo governo.
Pouco depois, na sede de seu partido, Anaya também admitiu seu fracasso, mas criticou limitações à sua campanha. Ele disse que já havia telefonado a AMLO para cumprimentá-lo pela vitória.
— Nenhuma democracia funciona sem democratas. Por acreditar na democracia, por ser um democrata, sei que a informação dos resultados de que disponho me indica que a tendência favorece AMLO. Falei com ele, reconheço seu triunfo e o cumprimento. Desejo o maior dos êxitos pelo bem do México. — Com a mesma transparência, devo reiterar que o governo federal usou criminosamente as instituições para atingir minha campanha.
Seguindo o movimento, mas com provocação, o candidanto independente Jaime Rodríguez disse que respeita a decisão "se os mexicanos querem continuar com a corda no pescoço".
A pesquisa da Mitofsky, divulgada pela rede Televisa, indicava uma faixa de 43% a 49% a AMLO; 23% a 27% a Anaya e 22% a 26% a Meade. Já o Gabinete de Comunicação Estratégica calculou 43,2% para López Obrador.
A contagem oficial talvez demore dias para ser anunciada oficialmente, embora esteja previsto que 80% dos votos já estejam computados às 8h de hoje (10h no Brasil), ainda que alguns atrasos sejam esperados, pois será a maior eleição da História do México, com a definição de 3.400 cargos de diversos níveis de governo.
Espera-se que AMLO, como é conhecido, acalme os mercados e investidores diante da possível virada à esquerda na mudança de poder. Sua equipe de campanha pretende publicar uma carta logo após sua vitória com esta intenção.
— A terceira (tentativa de ser presidente) será a vitoriosa — disse López Obrador, ao votar na manhã de ontem na Cidade do México. — Vamos bem, vamos bem — limitou-se a dizer o político até o início das apurações, embora não estivesse descartado um discurso em uma praça central capital mexicana caso os outros candidatos reconheçam rapidamente suas derrotas.
TRIUNFO DO MORENA NO PLEITO ESTADUAL
A coalizão de esquerda liderada por AMLO, o Movimento de Regeneração Nacional (Morena), vencia em quatro dos nove estados em disputa na votação deste domingo no México, além do distrito federal. Segundo projeções do instituto Mitofsky, o partido conquistará os governos de Veracruz (leste), Morelos (centro), Chiapas e Tabasco (sul), e mais a Cidade do México.
O Morena também deve assumir Veracruz com Cuitláhuac García (46,9% a 54,1%); Morelos, com o ex-jogador Cuauhtémoc Blanco (47,7% a 55,7%); Chiapas, com Rutilio Escandón (43,7% a 51,7%); e Tabasco, com Adán Augusto López (61,7% a 69,7%), segundo o Instituto Mitofsky.
O conservador PAN manteria o Estado de Guanajuato, com Diego Sinhué Rodríguez (40,6% a 48,6%), e a situação em Yucatán, Puebla e Jalisco permanece indefinida.
Na Cidade do México, a candidata do Morena Claudia Sheinbaum tornou-se a primeira mulher eleita para comandar a capital. De acordo com o Mitofsky, Sheinbaum obteve entre 45,5% e 55,5% dos votos, rompendo com 21 anos de domínio do Partido da Revolução Democrática (PRD) na Cidade do México.
Alejandra Barrales, do PRD e integrante da coalizão do conservador Partido Ação Nacional (PAN), obteve entre 27% e 33% dos votos, à frente de Mikel Arreola, do governista Partido Revolucionário Institucional, com 10,1% e 16,1%.
VIOLÊNCIA NO PROCESSO ELEITORAL
Ao longo do dia da eleição, o policiamento nas ruas da capital não precisou agir. A relativa calma na Cidade do México, no entanto, se opõe à violência que marcou o período de campanha eleitoral. Foi a eleição a mais violenta da História recente do país, com pelo menos 145 políticos assassinados desde setembro (48 eram pré-candidatos ou candidatos) — um número significativamente maior que o registrado em 2012, quando nove políticos e um candidato foram assassinados.
Neste domingo, dois militantes do Partido do Trabalho (PT) foi assassinada nos estados de Michoacán de Puebla, antes da abertura das seções eleitorais. Ao longo do dia, duas pessoas morreram em Tabasco e Chiapas.
O processo eleitoral conta com observadores da Organização de Estados Americanos provenientes de 23 países e a vigilância de policiais e militares em todo o país.
REAÇÃO INTERNACIONAL
O presidente boliviano Evo Morales cumprimentou AMLO, antes mesmo do resultado oficial:
"Nosso mais caloroso cumprimento ao irmão presidente eleito López Obrador por sua contundente vitória nas eleições do México. Estamos seguros de que seu governo escreverá uma nova página na história da dignidade e soberania latinoamericana", escreveu Morales no Twitter.
Mais cedo, ele havia pedido que o próximo presidente do México "olhe para o Sul" para enfrentar juntos a investidas dos EUA.
Com O Globo e agências internacionais