O turno inicial das eleições municipais esboçara as principais tendências do primeiro pleito realizado depois do impeachment da presidente Dilma, forte tranco no lulopetismo, agravado pelo avanço da Lava-Jato e de outras investigações sobre o ex-presidente Lula, líder supremo do PT. O segundo turno, no domingo, aprofundou a derrota do PT, varrido do entorno da cidade de São Paulo, batizado de “cinturão vermelho” devido à presença quase histórica da legenda nas prefeituras da região. Exemplar punição ao partido pelo eleitorado.
De maneira emblemática, em São Bernardo do Campo, onde Lula nasceu para a política e mora, venceu um candidato tucano, Orlando Morando Junior, na disputa com o representante do PPS, Alex Spinelli. O PT não emplacou representante na decisão das eleições, e verá o prefeito Luiz Marinho, ex-ministro de Lula e que chegou a ser cotado para disputar postos mais altos, passar o cargo ao adversário. No balanço final das eleições municipais, o PT encolheu de maneira vertiginosa: de 638 prefeituras em que venceu em 2012, caiu para 254. Governou para 27 milhões de eleitores, no domingo reduzidos a apenas 4 milhões. O PT foi levado pelos eleitores de volta à dimensão que tinha antes da primeira eleição de Lula presidente, no final de 2002. No conjunto de cidades com mais de 200 mil habitantes, em que podem haver dois turnos, o partido ganhou, e no primeiro, apenas em uma, Rio Branco, capital do Acre, com Marcus Alexandre, reeleito.
Para aumentar o desgosto do lulopetismo, o grande vitorioso foi o PSDB. O poder da legenda cresceu muito, tendo conquistado o controle da maior cidade do país, São Paulo, em que elegeu, logo no primeiro turno, João Doria, estreante em eleições.
Pelo conceito de tamanho de população, um em cada quatro brasileiros estará sob governo tucano. E emerge da vitória o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com valioso cacife para voltar a disputar mais uma eleição presidencial pelo partido, em 2018 (perdeu para Lula em 2006). Ao todo, o PSDB de Alckmin ganhou em cerca de 25% dos municípios paulistas. Já o concorrente na corrida para ser o candidato tucano ao Planalto, em 2018, senador Aécio Neves, perdeu no seu estado, Minas, na derrota de João Leite para Alexandre Kalil (PHS), na capital Belo Horizonte. Presidente do PSDB, porém, Aécio, além de capitalizar a vitória nacional, conhece bem a máquina do partido.
Silencioso, o Planalto de Michel Temer comemorou. O aliado PSDB foi vitorioso e o PMDB do presidente e principais assessores se manteve aproximadamente do mesmo tamanho, em número de prefeituras — 1.038 contra 1.021 em 2012. Fortalece-se, então, a base do governo, boa notícia para as reformas, cada vez mais urgentes.
Como é da característica da cidade, o Rio inova, com a vitória de Marcelo Crivella, embora a tônica, como em geral no país, tenha sido a soma de abstenções, nulos e brancos.
Principalmente estes dois, sinais de rejeição explícita a Crivella e Freixo. Somados, os “não votos” representaram 41,5% dos eleitores cariocas, acima da média nacional, mais que o 1,7 milhão dos concedidos ao futuro prefeito. Nulos e brancos foram 719,4 mil, ou 20,24% dos que votaram. Equivalentes a dois terços da votação de Freixo.
O Rio atrai a partir de agora as atenções sobre se o bispo licenciado da Universal fará mesmo um governo para todos ou se enveredará na aventura de um modelo teocrático, inconstitucional qualquer que seja ele.