Anne Warth, Adriana Fernandes e Maria Regina Silva - O Estado de S. Paulo
Pelas estimativas do mercado, reajustes farão com que a energia responda por uma alta de 0,5 ponto porcentual na inflação
Os reajustes nas tarifas de energia elétrica devem variar entre 10% e 17% no próximo ano e pressionar ainda mais a inflação, avaliam economistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, admitiu nesta terça-feira que apenas os dois empréstimos às distribuidoras, calculados em R$ 17,7 bilhões, terão impacto de oito pontos porcentuais na conta de luz em 2015.
O índice será repassado ao consumidor ao longo dos próximos dois anos. Se as previsões das consultorias se confirmarem, as tarifas de energia elétrica serão responsáveis por até 0,5 ponto porcentual no IPCA do próximo ano. De acordo com Rufino, porém, ainda não é possível projetar o aumento das contas de luz em 2015.
“Podemos dizer que o empréstimo terá um impacto no reajuste dessa ordem de grandeza (oito pontos porcentuais)”, afirmou Rufino. “Não estou com isso querendo dizer que o reajuste no ano que vem será de 8%, pois o reajuste leva em consideração outros fatores.” Esse aumento de oito pontos porcentuais será tratado como um componente financeiro, que entrará na tarifa em 2015, permanecerá por dois anos, e será retirado ao fim desse período, ao longo de 2017. O início do repasse ao consumidor dependerá da data do reajuste tarifário anual de cada distribuidora.
Ciente das estimativas do mercado, a estratégia do governo é “coordenar as expectativas” para evitar que projeções mais salgadas ganhem força e afetem as projeções de inflação para o ano que vem, segundo apurou o Broadcast. A equipe econômica do governo considera que o empréstimo das distribuidoras terá um impacto de apenas 0,2 ponto no índice de inflação.
O economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, projeta um aumento de 15% na conta de luz no ano que vem.” Esse é um impacto elevado, pois vem de um único item, entre os mais de 300 que integram o IPCA”, afirmou. O economista Étore Sanchez, da LCA Consultores, estima um aumento médio de 10% na energia em 2015. Se a alta se confirmar, a inflação fecharia 2015 em 6,10%. Adriana Molinari, da Tendências Consultoria Integrada, trabalha com a expectativa de reajuste médio de cerca de 17% em energia elétrica em 2015, o que levaria o IPCA a 6,30%.
Redução. O diretor-geral da Aneel disse nesta terça-feira que outros fatores podem reduzir o índice de reajuste de 2015. A queda do valor da energia no mercado e a devolução à União das usinas da Cesp, Cemig e Copel, que geram cerca de 5 mil MW médios, devem ajudar, pois o valor cobrado pela energia dessas usinas será mais barato.
Segundo Rufino, isso será “bastante relevante” e será capaz de “neutralizar, em grande parte, se não na totalidade, o impacto do empréstimo.” O financiamento feito pelo consórcio de bancos e intermediado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) deve totalizar R$ 17,7 bilhões para as empresas. Desse total, R$ 11,2 bilhões já foram repassados e outros R$ 6,5 bilhões devem ser fechados nas próximas duas semanas. O dinheiro deve chegar às mãos das empresas no dia 10.
Com a demora em finalizar a negociação com os bancos, a Aneel adiou, mais uma vez, a data de pagamento da energia no mercado de curto prazo pelas distribuidoras. A liquidação de maio poderá ocorrer até 28 de agosto. A data original, 10 e 11 de julho, havia sido adiada para amanhã, mas o governo não conseguiu fechar todos os detalhes da operação a tempo.