sexta-feira, 27 de junho de 2014

Arrecadação e saldo negativo em contas públicas fazem Ibovespa fechar em queda

Ana Paula Ribeiro - O Globo

Ações mais negociadas não ajudaram, e índice recuou 0,65% no pregão e 2,7% na semana

As ações mais negociadas na bolsa brasileira, conhecidas com blue chips, operaram em queda durante toda a sexta-feira, fazendo o Ibovespa, principal indicador do mercado acionário, fechar em terreno negativo. O índice fechou em queda de 0,65%, aos 53.157 pontos. Na semana, o recuo foi de 2,7%. Já o dólar fechou estável, cotado a R$ 2,1950. Entre segunda e sexta-feira, a divisa acumulou queda de 1,61%.

A queda no Ibovespa ocorre por razões setoriais distintas, mas em um contexto em que não há nenhuma notícia ou indicador macroeconômico positivo no mercado doméstico ou no exterior. Nesta sexta-feira, por exemplo, foi divulgado os dados sobre arrecadação dos tributos federais, que vieram ruins, indicando uma fraca atividade econômica. O humor piorou de vez com os dados das contas do governo central (que reúne o Tesouro Nacional, a Previdência e Banco Central), que registrou um déficit primário de R$ 10,502 bilhões em maio, o pior para o mês desde maio desde 1997. As contas públicas têm gerado preocupações em analistas e economistas.

— Essa não foi uma boa semana para a economia como um todo. Isso pressiona de uma maneira geral e reforça esse quadro mais negativos — diz Elad Victor Revi, analista ad Spinelli Corretora.

E o quadro fica mais negativo quando há razões para queda das principais empresas negociadas, como Vale e Petrobras.

— A Vale tem o problema do preço do minério de ferro, que voltou a cair um pouco nesta sexta-feira na China. Isso, em um dia de mercado fraco, leva a cotação para baixo — diz Ari Santos, gerente da mesa de renda variável da H.Commcor.

As ações preferenciais (sem direito a voto) da Vale fecharam em queda de 0,64% e as ordinárias (com direito a voto) caíram 0,95%.

Ainda no ambiente corporativo, a Petrobras também teve desvalorizações, após a alta registrada na quinta-feira. A razão ainda é a contratação da companhia para a exploração do óleo excedente em área do pré-sal. A agência de classificação de risco Fitch avaliou, em relatório divulgado nesta sexta-feira, de que essa nova obrigação fará com que a empresa tenha uma nova perda na capacidade de geração de crédito e também terá o seu perfil de dívida prejudicado. Isso porque a estatal precisa fazer pagamentos à União de R$ 2 bilhões na assinatura do contrato, além de outros desembolsos de R$ 13 bilhões até 2018.

Essa pressão no caixa, que fará com que a companhia se endivide mais, pode fazer com que a Petrobras tenha sua avaliação de crédito alterada. A Moody’s, também divulgou relatório nesta sexta-feira com preocupações sobre o perfil de crédito da estatal. As ações preferenciais da estatal fecharam em queda de 0,69%. Já as ordinárias recuaram 0,92%.

Sem indicadores relevantes, o operador de uma corretora afirma que é natural que ocorram ajustes, mas que a tendência ainda é de alta devido à presença de investidores estrangeiros, que tem efetuado movimentos de compra significativos tanto no mercado à vista como no futuro, em que estão com uma posição líquida de 90 mil contratos comprados, ou seja, apostando em uma alta.


DÓLAR EM LEVE ALTA

No mercado de câmbio, o dólar comercial terminou a sexta-feira praticamente estável, com leve queda de 0,04% diante o real, cotado a R$ 2,1930 na compra e a R$ 2,1950 na venda. Durante a maior parte dos negócios, a moeda americana era negociada com valorização diante o real. Na semana, o dólar acumula uma queda de 1,61%.

Para Jefferson Luiz Rugik, economista da Correparti Corretora de Câmbio, apesar dessa alta, a tendência é de queda para o dólar comercial, uma vez que o Banco Central continuará com as intervenções no mercado de câmbio. Uma reversão, em sua avaliação, apenas se houver uma mudança radical no cenário externo ou na corrida eleitoral.