A Universidade, por má gestão, gasta 106% dos seus recursos em salários. Se fosse uma instituição privada, teria falido. O modelo de governança precisa ser debatido
Pela dimensão e importância estratégica, o ensino público básico monopoliza as atenções de especialistas e domina os debates sobre Educação. Mas, quando a Universidade de São Paulo (USP), a melhor instituição de ensino superior do país, mapeada em rankings internacionais, entra em crise, é como se fosse ligado um estridente sinal de alerta. Afinal, os centros de excelência no ensino universitário estão, em maior número, nos estabelecimentos públicos. Qualquer maior problema em seu modelo, baseado na quase total autonomia, justifica sérias preocupações.
A USP já indicava alguma perda de substância acadêmica em rankings mundiais. Em 2012, até então única universidade brasileira a aparecer entre as duzentas melhores do mundo, no levantamento da Times Higher Education (THE), a USP, ligada à estrutura do Estado de São Paulo, caiu do 158º lugar para o grupo de escolas que se distribuem entre a 226ª e a 250a posições, cujos nomes não são divulgados. Já no ranking dos melhores estabelecimentos latino-americanos, levantado pelo grupo Quacquerelli Symonds (QS), a USP, este ano, perdeu o posto de melhor universidade do continente para a Católica do Chile. Esta, por sinal, exige uma prova de proficiência em inglês.
Quem vai mal, precisa estudar a língua. E assim a universidade chilena consegue produzir metade de seus artigos científicos em parceria com centros internacionais de estudo e pesquisa. A USP, apenas de 25% a 30%, um fator negativo nas avaliações internacionais.
A USP enfrenta graves problemas financeiros: tendo seguido, desde o final da década de 80, uma norma prudente, mas não escrita, de destinar 80% dos recursos, oriundos do ICMS paulista, para salários e os 20% restantes para investimentos e outras despesas de custeio, a universidade, por má administração, gasta hoje 106% em salários. Ou seja, se fosse uma instituição privada, estaria falida.
O atual reitor, recém-empossado, Marco Antônio Zago, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, propõe medidas administrativas duras. Por exemplo, nenhum reajuste salarial este ano. O resultado foi a decretação de greve de professores, funcionários e alunos. A pior solução será se o Palácio dos Bandeirantes aceitar colocar mais dinheiro na universidade, sem qualquer contrapartida, ampliando a parcela dos cerca de 5% do ICMS do maior estado da Federação recebidos pela USP. Se a autonomia foi mal usada — no caso, pelo reitor anterior, João Grandino Rodas, da Faculdade de Direito (Largo de São Francisco) —, ela precisa ser exercida agora para a própria universidade fazer um ajuste.
Será um processo doloroso, pois o campus, nos últimos anos, foi politizado e partidarizado, com a atuação de grupos radicais e sindicatos. Entende-se, por este aspecto, a crise acadêmica da USP. Em ambientes como este, a meritocracia deixa de ter valor. A questão é saber se a autonomia como tem sido praticada é o melhor sistema de governança para instituições que vivem do dinheiro da contribuinte, ao qual precisam dar retorno na forma de conhecimento, pesquisas, e assim por diante.
O momento da USP põe em debate o modelo de gestão das universidades públicas.
A USP já indicava alguma perda de substância acadêmica em rankings mundiais. Em 2012, até então única universidade brasileira a aparecer entre as duzentas melhores do mundo, no levantamento da Times Higher Education (THE), a USP, ligada à estrutura do Estado de São Paulo, caiu do 158º lugar para o grupo de escolas que se distribuem entre a 226ª e a 250a posições, cujos nomes não são divulgados. Já no ranking dos melhores estabelecimentos latino-americanos, levantado pelo grupo Quacquerelli Symonds (QS), a USP, este ano, perdeu o posto de melhor universidade do continente para a Católica do Chile. Esta, por sinal, exige uma prova de proficiência em inglês.
Quem vai mal, precisa estudar a língua. E assim a universidade chilena consegue produzir metade de seus artigos científicos em parceria com centros internacionais de estudo e pesquisa. A USP, apenas de 25% a 30%, um fator negativo nas avaliações internacionais.
A USP enfrenta graves problemas financeiros: tendo seguido, desde o final da década de 80, uma norma prudente, mas não escrita, de destinar 80% dos recursos, oriundos do ICMS paulista, para salários e os 20% restantes para investimentos e outras despesas de custeio, a universidade, por má administração, gasta hoje 106% em salários. Ou seja, se fosse uma instituição privada, estaria falida.
O atual reitor, recém-empossado, Marco Antônio Zago, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, propõe medidas administrativas duras. Por exemplo, nenhum reajuste salarial este ano. O resultado foi a decretação de greve de professores, funcionários e alunos. A pior solução será se o Palácio dos Bandeirantes aceitar colocar mais dinheiro na universidade, sem qualquer contrapartida, ampliando a parcela dos cerca de 5% do ICMS do maior estado da Federação recebidos pela USP. Se a autonomia foi mal usada — no caso, pelo reitor anterior, João Grandino Rodas, da Faculdade de Direito (Largo de São Francisco) —, ela precisa ser exercida agora para a própria universidade fazer um ajuste.
Será um processo doloroso, pois o campus, nos últimos anos, foi politizado e partidarizado, com a atuação de grupos radicais e sindicatos. Entende-se, por este aspecto, a crise acadêmica da USP. Em ambientes como este, a meritocracia deixa de ter valor. A questão é saber se a autonomia como tem sido praticada é o melhor sistema de governança para instituições que vivem do dinheiro da contribuinte, ao qual precisam dar retorno na forma de conhecimento, pesquisas, e assim por diante.
O momento da USP põe em debate o modelo de gestão das universidades públicas.