El País afirma que generosidade de Dilma com Cuba causou polêmica no Brasil
O jornal espanhol El País publica nesta terça-feira (28/1) uma matéria - "A generosidade de Dilma Rousseff a Cuba cria polêmica no Brasil" - repercutindo as consequências políticas do empréstimo que a presidente Dilma Rousseff autorizou a Cuba, para a construção do Porto de Mariel, um investimento de US$ 957 milhões, que teve US$ 682 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As obras foram da responsabilidade da empreiteira Odebrecht.
A reportagem destaca que essa decisão da presidente do Brasil coloca o país numa posição à frente da Venezuela, que antes era um dos principais motores da economia cubana. E destaca uma das frases da Dilma durante a inauguração do porto - "O Brasil quer se tornar o principal parceiro de Cuba".
O texto do El País diz ainda que a ilha caribenha está em dívida com o governo brasileiro e irá compensar a generosidade da presidente Dilma Rousseff, como aconteceu na parceria no programa Mais Médicos, que encaminhou para o Brasil médicos cubanos renomados para suprir a falta de profissionais de saúde em regiões periféricas do Brasil. Nos próximos dias, chegarão ao Brasil outros dois mil médicos enviados por Cuba, na terceira fase de implantação do programa que começou no ano passado. Dilma agradeceu o povo cubano pela ajuda nesse projeto, durante a cerimônia de inauguração do porto.
A reportagem do El País considera que o BNDES é uma das maiores instituições de desenvolvimento do mundo e o custo do investimento com o porto "é impressionante", justificando que o valor excede o total de exportações brasileiras para Cuba no ano passado, que foram de 530 milhões dólares, com a venda de farelo e óleo de soja, milho e máquinas, entre outros. Segundo o BNDES, o projeto será rentável para o banco, pelo fato de facilitar a exportação de bens e serviços em uma empresa brasileira e pelos rendimentos dos juros de mora vinculados ao empréstimo.
O ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula, Miguel Jorge, garantiu ao jornal espanhol que o projeto tem muito valor estratégico, pois o Brasil está se posicionando no momento em que Cuba está expandindo a sua economia. Jorge foi responsável pelo acordo com as autoridades cubanas e a Odebrecht, na época que ele era ministro. A Odebrecht diz que pode investir em novos projetos, como um novo aeroporto em Cuba. A subsidiária assinou no dia 5 de setembro um contrato com o Grupo de Negócios Açúcar (Azcuba), para modernizar a produção do produto na região de Cienfuegos.
"Apoiar o trabalho do porto de Mariel não é uma simples questão de infra-estrutura, mas um gesto político", afirmou ao El País o diretor de negócios do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal), Alberto Pfeifer. Ele avaliou que o movimento de Dilma de ir de Davos para Havana tem um sentindo simbólico, numa tentativa de enfatizar uma certa independência. "A presidente quer mostrar que é ela quem decide o que fazer, com quem e como", diz Pfeifer.
Mas o El País analisa que o gesto de Dilma não foi bem recebida pela classe empresarial do país. Para Pfeifer, o lucro em um projeto como o do porto de Mariel são limitadas. "Devemos concentrar nossos esforços em projetos com mais ênfase econômica e comercial.", justificou ele. A cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (CELAC), que começa segunda-feira (3/3) em Cuba, tem um peso mais político do que econômico, e vai emitir sinais difusos sobre a política de liberalização comercial no Brasil.