O presidente eleito Jair Bolsonaro criticou o que chamou de doutrinação exacerbada em questões do Enem, aplicado neste domingo em todo o país. Em entrevista à "TV Band", na tarde desta segunda-feira, Bolsonaro disse que "é um vexame ver o que cai na prova do Enem" e defendeu que se cobre "o que tem a ver com a questão do Brasil e da cultura". O capitão do Exército disse ainda que professores devem se orgulhar e não ficar preocupados com gravações em salas de aula.
— Não tenho implicância com LGBT, mas uma questão de prova que entra na linguagem secreta de gays e travestis não medem conhecimento nenhum. Temos que fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis para a sociedade.
O presidente eleito se referia à questão número 37 do caderno de Linguagens do Enem realizado domingo. A questão mostra um texto sobre "pajubá, o dialeto secreto dos gays e travestis" e pergunta por que "pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguístico".
Bolsonaro negou que pretenda acabar com o Enem, mas disse que seu governo não vai "ficar divagando sobre questões menores".
- Ninguém quer acabar com o Enem, mas tem que cobrar ali o que realmente tem a ver com a história e cultura do Brasil, não com uma questão específica LGBT. Parece que há uma supervalorização de quem nasceu assim.
Ao ser questionado se concorda que alunos gravem professores que estejam fazendo "doutrinação" em sala de aula, como sugeriu a deputada estadual eleita em Santa Catarina pelo PSL Ana Caroline Campagnolo, Bolsonaro disse que os professores devem se "orgulhar" e não ficar preocupados, caso algum aluno decida gravar as aulas.
— Professor tem que se orgulhar e não ficar preocupado. Mau professor é o que se preocupa com isso aí — disse.
A declaração de Ana Caroline gerou repúdio de entidades de educação ao publicar em sua página de Facebook logo após a vitória de Bolsonaro um pedido para que estudantes catarinenses vigiem seus professores e denunciem "manifestações político-partidárias ou ideológicas".
A deputada eleita argumenta que, com a eleição de Bolsonaro, "professores doutrinadores estarão inconformados e revoltados" e incentivou alunos a filmarem seus educadores e mandarem o vídeo para o próprio celular da deputada, informando o nome do professor, o nome da escola e a cidade.
Após a repercussão do caso, a Justiça mandou a deputada eleita pelo PSL retirar das redes sociais as publicações que incitavam alunos fazerem os vídeos em sala de aula. Segundo a decisão, a atitude fere diretamente o direito dos alunos de usufruírem a liberdade de expressão da atividade intelectual que deve ser exercida em sala de aula independentemente de censura ou licença.
Rayanderson Guerra, O Globo