O que esperar de uma equipe econômica formada por tantos egressos da universidade de Chicago?
Vejo hoje com enorme alegria a oportunidade dos Chicago Oldies, que já não são mais Chicago Boys, pelos quais tenho admiração e grande afeto pessoal, transformarem esse país. Essas escolhas, que chamo de choque liberal, que o Paulo Guedes vai certamente procurar implementar e evidentemente vai depender do diálogo do Congresso, não são escolhas ideológicas. É uma escolha pragmática. O modelo do Estado onipotente e onipresente faliu. E acho que cai como uma luva para um grupo de economistas brilhantes de Chicago. (A indicação do Paulo Guedes) confirmou a tese do posto Ipiranga. É um mega posto Ipiranga: está indicando o presidente do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa. É o momento de ter uma visão homogênea da estratégia econômica, para tirar o país dessa armadilha do crescimento baixo e do imobilismo social, e fazer com que esse país volte a crescer em seu potencial.
Que receituário é possível esperar desse time?
Reduzir o papel do Estado, estimular mercados competitivos, estimular o setor privado, mas num ambiente de bastante competição, contra cartéis e oligopólios. No receituário de Chicago, há sempre uma visão de uma economia aberta para o mundo e defesa da globalização.
Como o senhor conheceu a Universidade de Chicago?
Foi um marco na minha vida. Ganhei uma bolsa da fundação Ford para fazer o mestrado e o doutorado em Chicago. Estava no último ano da faculdade de Economia, lá na Urca, e havia um concurso para fazer um curso de desenvolvimento econômico do ministério do Planejamento, por volta de 1968. Passei no concurso, fiz o curso, terminei em primeiro lugar, e o diretor, que tinha feito mestrado em Chicago, perguntou se eu queria fazer o doutorado lá. Eu não conhecia a universidade. Fui conversar com vários professores meus e todos eles disseram que era uma universidade excepcional do ponto de vista econômico. Fui o primeiro PhD em economia brasileiro formado em Chicago.
Como foi a experiência?
Entrei para lá em 1969 e terminei em dois anos e meio, foi na época um tempo recorde. Era extremamente exigente, metade da turma não prosseguia para o doutorado. Foi para mim uma grande aventura acadêmica. Chicago que todos conheciam era quase equivalente ao monetarismo de Milton Friedman. Só que havia uma outra universidade de Chicago que eu tive o privilégio de conhecer que era a voltada para o desenvolvimento econômico, cujo grande professor era o Arnold Harberger, que era o chefe do departamento de Economia.
Que pontos mais chamaram a atenção durante o curso?
Fiz minha tese sobre as fontes de crescimento econômico no Brasil. Os orientadores foram o Harberger e o T. W. Shultz. Foi a primeira vez que um economista estimou a taxa de retorno do investimento em educação no Brasil. Mostrei que a taxa de retorno era o dobro da taxa de retorno do investimento em capital físico, como equipamentos, máquinas.
Como o trabalho foi recebido? Houve resistência a ideias liberais?
Lembro que quando fui fazer uma palestra pela primeira vez e falei que educação era capital, muita gente achava que eu estava diminuindo a importância da educação. Falavam que educação é um ativo cultural, que não pode ser tratada como algo que dê retorno. Vê como, naquela época, as ideias eram distorcidas.
Acredita que haverá resistência às propostas de Paulo Guedes?
Acho que vai haver, sim, resistência. Mas a minha sensação é que é diferente da minha época. Ali, estávamos realmente ainda com uma visão, apesar de o governo militar ter começado com uma visão liberalizante e modernizante da economia, em que prevalecia um viés estatizante, com um conceito de nacionalismo exacerbado, um modelo de crescimento com endividamento, que não se sustentou. Hoje é diferente, a crise brasileira, principalmente do segundo mandato do governo Dilma, foi muito profunda e estamos com uma economia crescendo muito abaixo de seu potencial.
Marcello Corrêa, Epoca