segunda-feira, 5 de novembro de 2018

"Labirinto latino-americano", por Rodrigo Botero Montoya



É difícil prever o que acontecerá em questões econômicas dentro de um período de 30 dias. Tentar antecipar   o que ocorrerá ao fim de nove anos é aventurar-se no campo da ficção científica. Para dar uma interpretação benevolente à predição mencionada, pode-se dizer que foi prematura. Incorporou o erro de interpretar o boom nos preços internacionais de petróleo e commodities como um fenômeno duradouro. Deixou de lado a qualidade das políticas públicas e o maior ou menor sucesso com o qual se estavam alocando os recursos da bonança que se mostraram efêmeros.
 O fato é que, para alguns países latino-americanos, esta década tem sido deplorável. Para outros, foi lânguido ou medíocre. Embora possa ser exagero afirmar que esta foi mais uma década perdida para o desenvolvimento da região, o nome certo poderia ser a década de oportunidades inexploradas.
Em 2011, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou,  numa demonstração de entusiasmo regional, que os anos seguintes seriam conhecidos como a Década da América Latina. Além de a prudência aconselhar  abster-se de cantar a vitória antes de vencer a batalha, por mais bem intencionada que seja, a profecia não faz parte das funções do BID.
A Venezuela, cuja produção total de bens e serviços é a metade do que era há cinco anos, é o caso mais visível de fracasso econômico. Com o slogan do socialismo do século XXI, os criminosos que tomaram o Estado venezuelano submeteram a nação a saques sistemáticos e empobreceram a população. A resultante destruição institucional e corporativa produziu uma catástrofe social, que levou a um deslocamento migratório sem precedentes no hemisfério. Esse colapso constitui uma tragédia humanitária.

A insatisfação com o desempenho econômico dos últimos anos, bem como a falta de acordos sobre o modelo de desenvolvimento desejável, reflete-se na falta de governabilidade e na incerteza política. A eleição de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil pode ser atribuída à combinação dos fatores aos quais se somam a rejeição da gestão do PT e os escândalos de corrupção associados ao esquema corporativista. O discurso autoritário e retardado sobre questões sociais foi nuançado com a nomeação de Paulo Guedes, um banqueiro, economista e profissional de mercado,  como ministro das Finanças. Resta saber se suas propostas de liberalização do comércio e privatização de empresas estatais seriam compatíveis com o viés nacionalista do presidente.
Na Argentina, o presidente Mauricio Macri vem corrigindo o retrocesso populista e desmantelando os andaimes kleptocráticos deixados pelo casal  Kirchner. Uma gestão econômica errática enfraqueceu a credibilidade do governo. Houve três governadores do Banco Central em três anos. A economia está em recessão, com uma taxa de inflação de 45%. Para 2019, Cristina Kirchner propõe repudiar o acordo com o FMI, o que implicaria declarar a inadimplência. 
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia
O Globo