A crise da Petrobras terá um impacto enorme na economia. Já está tendo. Que ninguém culpe a Operação Lava-Jato. Ela é a chance de o Brasil criar um outro ambiente de negócios no país. Os fundos de investimento e os fundos de pensão estão expostos às empresas do setor de óleo e gás e de construção. Bancos terão que fazer provisões, e empresas podem quebrar.
Conversei com empresários que estão avaliando as repercussões da trombada da Petrobras e do caso Lava-Jato na economia. Entrevistei na Globonews dois economistas sobre o assunto. Não há dúvidas de que as consequências serão fortes e já estão criando dilemas complexos. Bancos públicos, como o BNDES, estão fazendo mais exigências para emprestar.
Algumas das empresas citadas ou envolvidas na Lava-Jato já estavam com dificuldades antes, mas agora, sem fornecer para a Petrobras ou tendo dificuldade de empréstimos de capital de giro, podem quebrar.
— Se existe uma coisa que uma empresa de construção não aguenta é ficar sem capital de giro. Obra exige isso. Algumas estão vendendo ativos, mas nem o juiz do Paraná pode dizer hoje quanto tempo tudo isso vai durar. Algumas não vão sobreviver — lembra o economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.
Frischtak, no entanto, deixa claro que a operação é uma oportunidade:
— Está ocorrendo uma operação Mãos Limpas e ao mesmo tempo há uma nova legislação dura de combate à corrupção corporativa. Nós aprofundamos a investigação ou não? Não temos escolha. A indústria de construção aqui e em outros países é a que mais tem problemas de corrupção. Aqui, houve exacerbação. O momento cria uma oportunidade de haver um outro ambiente de negócios no Brasil com as empresas se comprometendo com um código de conduta duro. O governo, por seu lado, também tem que assumir esse padrão.
O economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos, acha que o setor de óleo e gás sofrerá um forte baque e prevê demissões em massa, empresas em recuperação judicial e firmas indo embora do Brasil. Acha que, ao final, o país terá ganhos:
— A Petrobras sairá uma nova empresa. Será menor, porque terá que desinvestir para reduzir o endividamento. Agora, terá que ser uma empresa sem loteamento, com gestão e governança profissionais.
Frischtak, no entanto, diz que é preciso deixar algo muito claro:
— A Petrobras não vai quebrar. Se precisar, o Tesouro fará capitalização, mas é preciso que muita coisa boa aconteça dentro da companhia para ela voltar a ser uma opção de investimento. O governo não pode mais errar. Houve uma sequência de erros inacreditável na empresa, como investimentos errados. O governo disse para a companhia: invista nisso que eu quero, eu vou controlar seus preços arrebentando seu caixa e você se endivide. Não há santo que aguente.
A solução, segundo Frischtak, é o governo ficar minoritário no conselho, como acontece em muitas estatais do mundo do petróleo que têm administração profissional.
No mercado financeiro, segundo Álvaro, o impacto será nos fundos de derivativos de antecipação de receitas, ou de certificados de direitos imobiliários, nos fundos de ação da Petrobras, das empresas envolvidas e dos vários parceiros.
— Ativos serão depreciados e terão que fazer marcação a mercado e assumir perdas — prevê Bandeira.
Nada disso é provocado pela Operação Lava-Jato. No máximo se pode dizer que ela precipitou uma situação que veio sendo criada em duas frentes. Intervenções dos governos petistas na Petrobras que a levaram ao alto endividamento, com um caixa amarrado pelos preços defasados. E pela corrupção, em si, que se ramificou pelos negócios da empresa. O rebaixamento cria um problema a mais, que pode ser quantificado.
— No mercado de empresas de grau de investimento circulam US$ 15 trilhões, e no mercado de empresas de grau especulativo circulam de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões. A Petrobras está saindo desse primeiro mercado de crédito para o segundo, muito mais restrito e mais caro — disse Álvaro Bandeira.
Há empresas líquidas e fortes, a Petrobras continua com todos os méritos e ativos que tem. Elas passarão pela turbulência, mas, como disse Frischtak, o governo não pode mais errar.