Quem diria, logo ele — ACM Neto, prefeito de Salvador, “liderança jovem e promissora”, ser um dos principais incentivadores da fusão de seu partido, o DEM (ex-PFL) com essa entidade moloide, fisiológica, sem ideologia, sem coerência e sem espinha dorsal que é o PTB.
Uma das principais figuras da oposição, que esteve o tempo todo ao lado de Aécio Neves na eleição presidencial do ano passado, dando, agora, uma barretada ao lulopetismo que diz combater — pois o PTB tem um pé e meio plantados no governo Dilma.
O DEM fundir-se ao PTB é uma traição à oposição e uma traição a seus eleitores.
O DEM, é verdade, não é grande coisa — mas poderia ser! Existe, no Brasil, um grande contingente de eleitores que votariam num partido liberal clássico, que fosse contra o excesso de Estado na vida do país e dos cidadãos, contra o excesso de impostos, a favor do capitalismo moderno, da iniciativa privada, dos investimentos propiciados pelo capital estrangeiro, defensor das liberdades civis, partidário do alinhamento do Brasil com o Ocidente e por aí vai.
Um partido de centro, ou de centro-direita, ou mesmo de direita (embora “direita”, conceito inteiramente aceito e parte do jogo em países civilizados, seja ainda um palavrão “neztepaiz”).
O DEM sofre do complexo de inferioridade de haver sido o PFL, que por sua vez foi uma costela do PDS, o partido do regime militar.
Mas não custa lembrar — e é eivado de má-fé quem esquece de propósito — que foi justamente o PFL, como dissidência do PDS, a pedra de toque capaz de eleger Tancredo Neves, do PMDB, como presidente da República pelo Colégio Eleitoral da ditadura. O PFL ajudou as forças democráticas do país a derrotarem a ditadura com seu próprio instrumento de impostura que “elegia” generais previamente escolhidos para ocupar o Planalto.
Essa maldição que pairou sobre o PFL e ainda sobrevoa o DEM não tinha nem tem razão de ser. Há centenas de políticos eleitos do hoje DEM sem qualquer relação, mesmo longínqua, com o regime militar. O deputado Rodrigo Maia, por exemplo, que presidiu o ex-PFL até recentemente, era um adolescente de 15 anos de idade quando Tancredo foi eleito, e nem sequer era nascido quando do golpe de 1964. ACM Neto, por sua vez, só nasceria 15 anos depois do golpe, e era um garotinho de 6 anos de idade quando Tancredo — apoiado por seu avô, o cacique Antonio Carlos Magalhães, do PFL — se elegeu presidente.
Além do fato empobrecedor para a democracia brasileira de desaparecer do mapa um partido, como o DEM, que poderia ocupar espaço importante no leque ideológico brasileiro, sua fusão com o PTB fará desaparecer um partido de oposição “a isso que aí está” — sim, desaparecer, porque a tendência é que o partido surgido da mistura continue se chamando PTB.
O DEM dispõe de 23 deputados federais, e o PTB 26. A bancada do DEM no Senado consiste em 4 senadores, a do PTB, 3 — um deles Fernando Collor!
Alguém acha que os atuais deputados e senadores do DEM, com raríssimas exceções, continuarão fazendo oposição ao lulopetismo, quando o PTB até ministro tem no governo (Armando Monteiro Filho, ministro do Desenvolvimento)?
Quem tem sido coerente na defesa do DEM e contra a fusão, ideologicamente absurda, com o PTB, é o senador Ronaldo Caiado (GO), que era deputado e acaba de sair de um grande “banho de urna” na disputa por uma vaga no Senado por seu Estado. Caiado, oposicionista firme, vem alertando para os perigos da aliança e para o mau que ela fará ao equilíbrio de forças políticas no Congresso e fora dele.