Quando terminou a Segunda Guerra Mundial (1939/45), o Partido Conservador britânico tinha 3 milhões de filiados, três vezes mais que o ainda assim impressionante 1 milhão do Partido Trabalhista.
Hoje, cada um não consegue contabilizar mais que 200 mil.
Na Espanha, nas eleições gerais de 2011, os dois partidos que dominam a política local desde a redemocratização, em 1977, somaram 73% dos votos (44,6% para o conservador Partido Popular e 28,7% para o Partido Socialista Operário Espanhol).
Na pesquisa mais recente para a eleição prevista para este ano, PP e PSOE, juntos, não conseguem mais que 39% das intenções de voto, 34 pontos abaixo, portanto, do que tinham há quatro anos.
Bastam esses dois dados para mostrar o sensível declínio dos partidos tradicionais, os que estiveram à frente dos governos europeus desde a guerra. Vale para a América Latina: em um punhado de países, partidos tradicionais foram simplesmente varridos do mapa pela ascensão de novos movimentos, como o chavismo ou o "evismo" na Bolívia.
Mas, ao contrário do que ocorreu na vizinhança, na Europa há um tremendo medo de dar o salto no vazio, que seria votar em, digamos, "novidades". A eleição departamental de domingo (29) na França é bastante ilustrativa: a fascistoide, xenófoba e racista Frente Nacional foi a mais votada no pleito para o Parlamento Europeu, no ano passado.
Mas, na hora de entregar o poder em instituições mais próximas do cotidiano, o eleitor francês prefere o tradicional: como o governo socialista está fortemente desgastado, deu estrondosa vitória à direita convencional, deixando a extrema direita sem nenhum Departamento. Zero. É verdade que a Frente Nacional cresceu razoavelmente, mas não passou de 23% dos votos, contra 45% da coligação de centro-direita e 32% das várias esquerdas (mas apenas 16% para o PS governante).
No domingo anterior (22), algo parecido havia ocorrido na eleição regional na Andaluzia: as pesquisas nacionais indicam uma vitória do grupo Podemos, recém-criado e representante do movimento dos "indignados", que explodiu na Espanha no auge da crise.
Mas, na Andaluzia, o Podemos ficou com apenas 15 cadeiras, longe das 47 do PSOE, que manda na região há mais de 30 anos, e longe até do PP (33), castigado por ser o partido que comandou o "austericídio" e por escândalos de corrupção.
Os partidos tradicionais ficaram, portanto, com 80 das 109 cadeiras do Parlamento regional –o que está longe de representar o terremoto previsto.
Resumo da ópera para "El País": "O que parece claro é que a situação é muito líquida. O PP e o PSOE encontraram um solo sólido, mas inferior ao de cinco anos: (...) Podemos e Ciudadanos [outro grupo recente, este centrista] mantêm sua ascensão ainda que com enorme volatilidade mês a mês, dependendo da atualidade do dia".
Parece claro que o desencanto com a classe política ainda não é suficiente para que o eleitorado arrisque um salto no vazio. Foi, de resto, o que aconteceu no Brasil com Marina Silva.