Ernesto Rodrigues - 31.mar.2015/Folhapress | |
Lula ganhou camiseta em ato do qual participou o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli |
CATIA SEABRA, GUSTAVO URIBE e MARINA DIAS - Folha de São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou na noite de segunda-feira (30) a atuação da presidente Dilma Rousseff frente à crise política enfrentada pelo governo.
Em encontro a portas fechadas com dirigentes petistas, na capital paulista, o ex-presidente comparou o momento atual com 2005, quando o escândalo do mensalão o atingiu no primeiro mandato.
Segundo relatos de participantes, Lula disse que Dilma precisa reagir ao cenário de dificuldades e lembrou que ele, em resposta à crise do mensalão, não ficou "trancado no gabinete", cercado por auxiliares e assessores lamentando notícias negativas.
No início de seu discurso, o petista fez questão de frisar que nada abalará a sua relação com a presidente e que seu sucesso pessoal está condicionado ao êxito do atual governo federal, da mesma forma que o seu fracasso.
"O sucesso da Dilma é o meu sucesso", afirmou, segundo relatos de presentes.
Na sequência, no entanto, lamentou que Dilma não esteja seguindo a estratégia adotada por ele em 2005, não investindo em uma "pauta positiva" com inaugurações de obras e viagens pelo país.
Ainda segundo relatos de participantes, para exemplificar a necessidade de o governo federal reagir e não se intimidar diante da crise, Lula arrancou gargalhadas ao contar que, na época do mensalão, todo dia se olhava no espelho e dizia: "Eu sou o cara mais bonito que existe".
Em outro paralelo com 2005, lembrou que, mesmo sob críticas, recebeu líderes de movimentos sociais e sindicais, o que também sugeriu agora para a presidente.
Na avaliação de Lula, sua sucessora deveria estreitar relações com diferentes setores da sociedade, ampliando seus canais de interlocução. Ele lembrou que, no auge da crise do mensalão, foram os sindicalistas que criaram o bordão: "Lula é meu amigo: mexeu com ele, mexeu comigo".
Ainda segundo petistas, Lula criticou a política de comunicação do governo federal e reclamou que sugestões suas não foram levadas em conta pelo ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e pelo marqueteiro João Santana na elaboração do pronunciamento feito pela presidente no Dia da Mulher, em 8 de março.
A veiculação do discurso da presidente em cadeia nacional pela televisão foi recebida com vaias e panelaços em pelo menos 12 capitais. "Não sei quem foi o infeliz que convenceu ela a falar", disse o ex-presidente, de acordo com relatos de presentes.
O encontro de segunda-feira, em um hotel da capital paulista, teve a presença de dirigentes de todos os diretórios estaduais da sigla. Lula conclamou os dirigentes a "ir à luta" para diminuir os danos sofridos pela imagem do partido nos últimos meses.
Nesta terça-feira (31), em São Paulo, Lula participou de um ato convocado por sindicatos e movimentos sociais em defesa da Petrobras, a estatal em que atuou o esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato.