O Brasil que foi às ruas em 15 de março para protestar contra Dilma Rousseff, a corrupção e o PT é bem diferente daquele que se mobilizou em 16 de abril de 1984, quando mais de um milhão e meio de pessoas se juntaram, no Anhangabaú, em São Paulo, na esteira do movimento em prol das Diretas-Já.
Naquele ciclo, a luta cívica tinha como alvo a defesa das liberdades e a escolha, pelo povo, do seu mandatário. Hoje, esses direitos se consagram na nossa Constituição.
Também difere do país que, em 20 de junho de 2013, registrou mais de 1,5 milhão de pessoas nas ruas, protestando contra as taxas dos transportes públicos e serviços precários nas áreas de saúde, educação e segurança, entre outros temas.
Se alguma semelhança com o passado pode ser enxergada, é com o memorável movimento "Fora, Collor", que culminou com o impeachment de Fernando Collor em 29 de setembro de 1992.
Como naqueles idos, o clamor recente dos 2 milhões de brasileiros que acorreram às ruas pede o afastamento da primeira mandatária. Ocorre que não há, até o momento, arcabouço técnico-jurídico suficiente para respaldar um pedido de impeachment da chefe da nação, apesar de pareceres de eminentes juristas acatando essa tese.
Essa, porém, é uma discussão para o direito. O fato é que o Brasil pós 15 de março abriu um novo marco em sua vida institucional. A partir da constatação de que sua democracia participativa ganha solidez com a entrada em cena de um cidadão com apurada conscientização política e sob a crença de que as mobilizações, ao contrário do passado, incorporam-se definitivamente à paisagem urbana.
É interessante observar que tais avanços ocorrem quando a vida político-institucional passa a ser banhada por um gigantesco lamaçal, no momento em que o país vivencia os mais escandalosos eventos da contemporaneidade. Quais as razões para essa aparente dicotomia, com a sociedade, de um lado, e a esfera política, do outro?
Vejamos. Lula assumiu, em 2003, como o salvador da pátria. Ancorou seu governo em ampla plataforma social, abrindo canais da articulação política, atendendo às demandas dos partidos da base, no balcão de apoios e recompensas, usando o instinto político para administrar conflitos com os outros Poderes.
A crise do sistema financeiro internacional, em 2008, levara o mundo a desempregar milhões de trabalhadores, mas o Brasil, vencendo as intempéries, gerava 12 milhões de empregos formais. Com o título de sétima economia, renda per capita triplicada e desigualdade caindo, a quarta democracia mais populosa do mundo, depois da Índia, EUA e Indonésia, parecia uma ilha de segurança no oceano borrascoso.
Mas a esperança de longa jornada desenvolvimentista arrefeceu na era Dilma, arrastada pelo modo de governar petista, ancorado no populismo, aparelhamento do Estado, desorganização das contas públicas, improvisação nas frentes de obras, entre outros, e a par do discurso separatista, "nós e eles".
A política econômica do lulopetismo se exauriu. Confirmando-se a projeção que se faz para este ano (de -0,5% de queda do PIB, podendo chegar a -3%), viveremos a maior retração em 25 anos. É o sinal da falência total do modelo.
A presidente da República se isolou da esfera política, administrando o país sem ouvir a sociedade. A Petrobras, rebaixada no grau de investimento no mês passado, deixou de ser símbolo de orgulho. A corrupção, como metástase, propaga-se e a sociedade clama por uma cirurgia rápida. Antes que seja tarde.
JOÃO DORIA JR., 57, empresário e jornalista, é fundador e presidente do Lide - Grupo de Líderes Empresariais