Em debate promovido pela Folha e pelo portal UOL na tarde desta segunda-feira (30), o ativista Fernando Silva, 18, um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), disse que a presidente Dilma Rousseff já não tem controle sobre o país e que se tornou uma espécie de "rainha da Inglaterra" no Palácio do Planalto.
O debate ocorreu no teatro Tucarena, em São Paulo, e foi mediado pela repórter especial Patrícia Campos Mello, com perguntas do blogueiro Josias de Souza.
"Quem governa o país hoje é o Eduardo Cunha e o Renan Calheiros. Ela [Dilma] é uma espécie de rainha da Inglaterra", disse Fernando, que é conhecido na internet como Fernando Holiday.
O MBL defende abertamente o impeachment da presidente por entender que ela pode ser enquadrada em crime de responsabilidade por ter ficado à frente do conselho de administração da Petrobras no período em que, segundo a Operação Lava Jato, desvios se tornaram frequentes na estatal.
Além do MBL, o advogado Cláudio Camargo, do movimento Quero Me Defender, participou do evento.
Camargo entende que ainda não é possível juridicamente defender o impeachment de Dilma. Ele prega, no entanto, a adoção de uma pauta conjunta de todos os movimentos antigoverno baseada em pontos de concordância, como a redução do número de ministérios e o repúdio ao silêncio do Planalto sobre a situação política da Venezuela.
Ambos os representantes disseram repudiar os grupos que defendem a intervenção militar. "Sou radicalmente contra ditadura, seja ela de esquerda ou de direita", disse Camargo.
Fernando Holiday defendeu a legitimidade do impeachment. Questionado sobre o fato de que o poder poderia acabar nas mãos do PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e dos presidentes da Câmara e do Senado, avaliou que, apesar de também estar envolvido com denúncias de corrupção, o PMDB não tem um viés totalitário.
"O PT usa a corrupção para colocar em risco a nossa liberdade", avaliou.
TRADUÇÃO
Camargo comanda uma página na internet que tem cerca de 400 mil seguidores. Ele diz que dedica duas horas diárias à alimentação do site e que seu trabalho é "traduzir" o noticiário para "o povo". Em sua fala, disse que a população mais pobre não lê jornal e, quando lê, não entende.
Questionado se não teria uma visão "paternalista", por defender que algumas pessoas são incapazes de formar juízo sobre o que se passa no país, rechaçou: "Você escreve sobre superávit primário. A moça que trabalha na minha casa não vai entender. Se eu disser pra ela: estão gastando mais do que podem, ela entende".
Convidado para o evento, Marcello Reis, do grupo Revoltados On Line, não compareceu. Ele havia confirmado presença. O debate era aberto para o público e, em diversos momentos, houve intervenção da plateia. Ao final, um trio que defendia a intervenção militar discutiu com estudantes que acompanhavam a programação.