domingo, 26 de março de 2023

'Um poço de ressentimento', por J.R. Guzzo

Insulto após insulto, Lula tem conseguido se mostrar o chefe de Estado mais irresponsável que o Brasil já teve desde a volta dos civis ao governo deste país

Lula debochou da operação da PF contra o PCC | Foto: Rafael Vieira/Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Lula debochou da operação da PF contra o PCC | Foto: Rafael Vieira/Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo


Insulto após insulto, decisão após decisão, o presidente Lula tem conseguido se mostrar, em menos de 90 dias no governo, o chefe de Estado mais irresponsável que o Brasil já teve desde a volta dos civis ao governo deste país. 

Já se mostrou, também, inepto — não consegue, simplesmente, governar o Brasil com um mínimo de competência. 

Gastou todo o seu tempo até agora no ataque a inimigos imaginários e na produção de fumaça demagógica; não tem a mais remota ideia a respeito de como começar a resolver qualquer dos problemas que crescem todos os dias bem na sua frente, mesmo porque não entende a natureza mais elementar desses problemas. 

Lula, agora, também deixou de fazer nexo no que diz. 

A impressão é a de que temos na Presidência da República um homem que está em processo de perda acelerada do equilíbrio mental.

Seu último surto, e o pior de todos os que já teve, foi a declaração demente de que a operação policial que descobriu, num prazo recorde de 45 dias, um plano do PCC para assassinar o senador Sérgio Moro, o promotor Lincoln Gakiya e diversas outras autoridades, era uma “armação” do próprio Moro. 

“É visível que isso é armação do Moro”, disse ele. 

Lula fez o seguinte: afirmou que o trabalho de 120 policiais da Polícia Federal, mais as autoridades do Ministério Público de São Paulo e de órgãos de combate ao crime organizado, é uma invenção de Sergio Moro. 

O trabalho policial identificou imóveis alugados pelos criminosos nas vizinhanças da residência do senador em Curitiba. 

Gravou conversas entre os criminosos. 

Obteve vídeos feitos pelos bandidos para registrar a movimentação física de Moro e seus familiares. 

Descobriu um investimento de 5 milhões de reais no plano. 

Prendeu, por ordem judicial, uma dezena de pessoas. Lula diz que tudo isso é “armação” de Moro — não um sucesso brilhante da polícia que faz parte do seu próprio governo. 

Praticou calúnia em público: acusou a Polícia Federal e o senador de um crime que não cometeram. 

Depois de dizer o que disse, como sempre acontece com ele, quis se proteger — afirmou que “não queria acusar ninguém sem provas”. 

Por que diabo acusou, então? Não faz sentido.

O ataque a Moro, à PF e ao MP fica particularmente pior porque, momentos antes, Lula tinha cometido outra agressão alucinada contra Moro — disse que não iria sossegar enquanto não arruinasse a vida do ex-juiz, e que só tinha desejos de vingança contra ele. 

Revelou que pensou essas coisas na cadeia, mas e daí? 

Por que fez questão de falar sobre elas justo agora? 

Lula, visivelmente, não está interessado em governar o Brasil neste momento. Só pensa em cultivar seus próprios ressentimentos.

Publicado originalmente no O Estado de S. Paulo 

Revista Oeste