O ex-presidente Jair Bolsonaro em encontro com apoiadores nos Estados Unidos.| Foto: EFE/Ana Mengotti
Nesta quinta-feira, dia 30 de março, às 7h30, o ex-presidente Jair Bolsonaro voltará ao Brasil. Diretamente da Flórida, onde curtiu três meses de merecidas férias, fuga ou autoexílio – a melhor palavra é ao gosto do freguês. Eu, que adoro uma muvuca, estou até pensando em dar uma conferida nesse momento histórico. Nesse erro histórico.
E aqui, por favor, não está em jogo nenhum tipo de sentimento pessoal em relação ao ex-presidente. Tampouco faço uma avaliação do governo dele. Nada disso. É só uma opinião que leva em conta as circunstâncias políticas em torno das quais o texto foi escrito. Isto é, o momento em que Lula exibe toda a sua estupidez a uma plateia até então virgem para a fábula do sapo e do escorpião.
A militância bolsonarista está em festa. E, tudo bem, é legítimo. Passamos décadas sob o domínio da esquerda, aí aparece um líder de direita e as pessoas se agarram a ele como a Rose se agarrou àquela porta do Titanic. Mas aqui já começam os problemas. E se a recepção não for tudo o que se espera dela? Pior: e se for um sucesso, mas houver qualquer tipo de violência, mesmo que de infiltrados? Pior ao quadrado: vai que a alfândega para Bolsonaro e encontra dentro da mala algum item que extrapola a cota de importação. Imagine as manchetes!
O problema é que a militância petista também está em festa. E eles têm motivo de sobras para isso. Afinal, tente se colocar no lugar de um petista por um instante. (Ei, tira a mão daí! Essa carteira é minha! Não precisa exagerar, pô!). Imagine que o líder da sua seita esteja descontrolado, falando sandices e conseguindo irritar até mesmo aquela imprensa tão simpática e misericordiosa quando se trata de Lula. Você não ficaria feliz com a possibilidade de os holofotes se voltarem para aquele que essa mesma imprensa ainda considera O Grande Bicho-Papão Nacional?
Além disso, forças esquerdistas hoje em conflito, como Renan Calheiros e Arthur Lira, talvez vejam na volta de Bolsonaro um motivo para deixarem suas diferenças de lado. Isso sem falar em Alexandre de Moraes e aquela turminha do barulho lá dele. Os ministros do STF por ora estão em silêncio, acovardados diante da nova realidade com a qual terão de lidar: a de que ajudaram a eleger um extremista de esquerda. Mas, com Bolsonaro por aí, eles podem muito bem sair de suas confortáveis tocas com a velha desculpa do “se a gente não fizer isso ou aquilo, o ‘fascismo’ volta”.
Outro lado
Quando, pelo Twitter, disse que a volta de Jair Bolsonaro ao Brasil era prematura e, neste momento, só beneficia o ex-presidiário, pedi aos meus seguidores que me apresentassem argumentos contrários. Pelo que entendi, as justificativas dos que apoiam a volta do ex-presidente ao país se baseiam em duas premissas.
Primeiro, a de que a volta será triunfal e essa imagem de triunfo ecoará pelo país em mais uma manifestação de força da direita. Ou do bolsonarismo. É um bom argumento, mas não me convence. Primeiro porque não há certeza nenhuma de que o retorno será assim tão triunfal. Aliás, o que é triunfal para uns talvez não seja para outros. Além disso, não se pode ignorar que muitas pessoas que demonstraram apoio a Bolsonaro em motociatas e em manifestações como as do 7 de Setembro se ressentem do fato de ele ter ido embora do país, deixando para trás, inclusive, uma multidão de presos políticos.
A outra premissa é, com todo o respeito, mais frágil. Ela se baseia numa pergunta assim meio fatalista: se não agora, quando? De fato, Bolsonaro um dia terá de voltar para casa. Não é por acaso que os grandes viajantes dizem que o melhor de partir é voltar. Desde Homero se sabe disso. Ainda assim, pensando apenas como o analista político que alguns acreditam que sou, e deixando de lado os aspectos pessoais da reentrada de Bolsonaro na atmosfera tupiniquim, sugeriria que Bolsonaro adiasse ao máximo a viagem de volta.
Se mesmo assim prevalecesse no ex-presidente a ideia fixa de voltar, insistiria para que Bolsonaro se recolhesse. Se calhar, até o convidaria para que pegasse um pão com leite condensado e se juntasse a nós, que estamos tendo o incômodo privilégio de testemunhar a queda precoce de Lula. E, com ele, a queda de toda a esquerda populista, seu séquito de parasitas e suas promessas mentirosas de utopia.
Gazeta do Povo