sexta-feira, 31 de março de 2023

Precisamos confrontar a misoginia woke, por Tom Slater, da Spiked

 

Kellie-Jay Keen, forçada a fugir da Nova Zelândia, depois de ser atacada por uma multidão de ódio pró-trans | Foto: Reprodução Redes Sociais


O ataque a Posie Parker é apenas a violência mais recente cometida por ativistas trans contra mulheres


Homens impedindo mulheres de falarem em público. Homens gritando que mulheres que ousam discordar deles devem se calar e se matar. Homens dando socos no rosto de mulheres. Existe uma palavra para tudo isso: misoginia. Misoginia violenta e desenfreada. E, no entanto, esse comportamento vil foi permitido mais uma vez, recentemente, por quem acredita ser a infantaria de um novo movimento de direitos civis, por aqueles que maculam o manto do antifascismo ao reivindicá-lo para si, pelas pessoas que, de alguma forma, ainda conseguem chamar a si mesmas de “progressistas”.  

Keen foi atacada com suco de tomate e cercada por uma multidão furiosa de ativistas trans | Foto: Reprodução Redes sociais

Estou falando, claro, dos diversos ativistas trans que ameaçaram e atacaram mulheres nos últimos dias por falarem o que pensam. Acima de tudo, estou falando do confronto em Auckland, Nova Zelândia, que ocorreu no sábado, onde ativistas trans entraram em conflito com uma manifestação de mulheres críticas da teoria de gênero organizada por Kellie-Jay Keen, militante britânica dos direitos das mulheres. O evento, que Keen (também conhecida como Posie Parker) reproduziu pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos, foi chamado de “Let Women Speak”, algo como “Deixem as Mulheres Falarem”, em tradução livreTodo evento é igual. Keen aparece, fala com a multidão e então convida mulheres para subirem ao microfone e dizerem o que quiserem dizer. Naturalmente, isso sempre enfurece os misóginos — não existe outra palavra para esses babacas, além de talvez “babacas” —, que rotineiramente se reúnem para abafar esses eventos com megafones, chocalhos, gritos de guerra e que, em Auckland, acabaram com o evento fazendo uso de força física.  

Sobretudo porque a polícia está se recusando a fazer seu trabalho, qualquer um que acredite em liberdade de expressão e nos direitos das mulheres precisa se posicionar, em solidariedade a essas mulheres corajosas

Os vídeos que circulam na internet são de revirar o estômago. Keen foi atacada com suco de tomate. Cercada por uma multidão furiosa de ativistas trans, ela precisou ser escoltada até um espaço seguro por agentes femininas com coletes de alta visibilidade. Desde então, Keen foi forçada a deixar a Nova Zelândia e voltar ao Reino Unido. Outro vídeo, supostamente do mesmo evento, mostra uma mulher grisalha levando um soco no rosto do que parece ser um punho masculino. Um terceiro vídeo mostra homens animadamente atravessando barreiras de segurança. Na direção de quem eles estavam correndo? Para quem estavam levantando seus punhos e disparando insultos? Um grupo grande de mulheres mais velhas, que estavam ali para pacificamente expressar suas preocupações sobre a ideologia de gênero, de acordo com relatos de testemunhas oculares. Em meio à confusão, a polícia de Auckland não foi encontrada.  

Ainda que o fiasco da Nova Zelândia justificadamente tenha chegado às manchetes, esse não foi o único evento perturbador da guerra das questões de gênero do último fim de semanaOntem, no Hyde Park, em Londres, houve uma pequena reprise de Auckland. No evento mensal “Let Women Speak”, no Speakers’ Corner, um pequeno grupo de mulheres críticas da teoria de gênero foi cercado por um grupo muito maior de ativistas pelos direitos trans. A polícia não conseguiu manter os dois lados separados. Se considerarmos os vídeos do encontro, um punhado dos policiais cercou as mulheres por um instante, formando uma fina barreira uniformizada entre as feministas e os opositores ao protesto, até deixá-las por conta própria — celebrando um trabalho que mal tinha começado a ser feito. Durante todo esse tempo, o grupo do “lado certo da história” podia ser ouvido gritando “nazista bom é nazista morto, então vão se matar”. 

Felizmente, a coisa não se tornou violenta. Mas isso não é exatamente um triunfo, é? Essas mulheres estavam apenas exigindo o direito de falar em público sobre a erosão de sua liberdade de expressão e seus direitos baseados no sexo por conta de uma ideologia de gênero extremista. E nem mesmo isso lhes foi concedido. Os manifestantes abafaram o ato. Não foi um contradiscurso — foi o veto dos confrontadores em ação. E até mesmo isso parece uma forma um tanto sutil de descrever as táticas dessa multidão. Confrontadores costumam ser engraçados. Não há nada engraçado em chamar mulheres que têm idade suficiente para ser sua mãe de fascistas e dizer para elas se matarem. Além do mais, a coisa facilmente poderia ter extrapolado. Assim como aconteceu quase no mesmo local, em 2017, quanto Maria MacLachlan, 60 anos, que esperava para participar de um evento crítico à teoria de gênero, foi agredida por Tara Wolf, um homem de 26 anos, que foi até lá explicitamente para “f*der as TERFs” — um xingamento que significa “feminista radical transexcludente”. (Durante o julgamento de Wolf, MacLachlan foi repreendida pelo juiz, por não se referir ao seu agressor como “ela”.) 

Esses conflitos estão se tornando mais comuns. Sábado, em Londres, o evento inaugural do projeto crítico da teoria de gênero Lesbian Project foi recebido por contramanifestantes. Os dois lados foram mantidos afastados desta vez. Mas um homem que decidiu filmar o protesto dos ativistas pelos direitos trans teve o celular arrancado de sua mão e foi chamado de fascista. No vídeo do incidente, feito por ele mesmo, pode-se ver a polícia acusando-o de antagonizar a multidão. E há uma série de explorações do caso feitas pelos homens que as feministas críticas da teoria de gênero chamam de “Black Pampers” — “antifascistas” usando balaclavas que, pelo jeito, se dedicam a ameaçar mulheres que discordam deles e disparar insultos sexuais violentos contra elas, como mandar as chamadas TERFs chuparem seu pênis. Talvez porque ninguém mais aceite tocá-los. Suas ações foram filmadas em Manchester, Brighton e Bristol — onde eles recentemente forçaram um grupo de mulheres a se proteger dentro de um pub 

Chega. Precisamos dar a esse comportamento seu devido nome: misoginia violenta. Também precisamos chamar os vários cretinos que estão mirando nessas mulheres — do canal de televisão neozelandês Newshub, que fez uso de táticas absurdas para chamar Keen de “extrema direita” antes do ato em Auckland, ao senador australiano Nick McKim, que chamou Keen e suas apoiadoras de “babacas”, numa rima de gírias australianas, passando por nossos próprios membros da cultura woke, como Owen Jones e Billy Bragg, que continuam dizendo que mulheres críticas da teoria de gênero, e não os homens vestindo preto que ameaçam agredi-las, são o lado alinhado com o fascismo dessa batalha. Por fim, sobretudo porque a polícia está se recusando a fazer seu trabalho, qualquer um que acredite em liberdade de expressão e nos direitos das mulheres precisa se posicionar, em solidariedade a essas mulheres corajosas — fisicamente, em público, no evento crítico da teoria de gênero mais perto de você.  

Elas precisam de apoio — e os reacionários que estão posando de progressistas precisam ser enfrentados. Nos vemos no Speakers’ Corner. 


Tom Slater é editor da Spiked.
Ele está no Twitter: @Tom_Slater_

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Revista Oeste