segunda-feira, 27 de março de 2023

'A fábula da Floresta: Os ratos do mal... A história que contarei para os meus netos', por Marcelo Rates Quaranta

Antes quem administrava a floresta eram os corvos, porém, cansadas de tantos desmandos, as onças se rebelaram e durante 20 anos foram elas que tomaram conta da floresta e de todos os animais, com garras de aço


Assim que criou os animais, Deus colocou todos eles juntos numa floresta. Para não interferir na administração da floresta, Deus disse que eles democraticamente votassem em quem deveria administrar a floresta.

Antes quem administrava a floresta eram os corvos, porém, cansadas de tantos desmandos, as onças se rebelaram e durante 20 anos foram elas que tomaram conta da floresta e de todos os animais, com garras de aço.

Terminados esses 20 anos, as onças, exaustas de tantas críticas, entregaram para quem quisesse governar. Inicialmente seria uma raposa velha, mas por causa de um problema de saúde, a raposa velha morreu e o chacal assumiu o seu lugar. Depois disso vieram outros animais, como a hiena, que dizia que iria caçar os animais marajás e etc. A cada eleição o rato  concorria mas não ganhava nada, até que um dia ganhou pela insistência, prometendo transformar a floresta no melhor lugar do mundo.

Durante 8 anos o rato fez da floresta o que bem quis e só roubou a comida dos outros animais. Afinal, a natureza do rato era essa mesma. Não podendo mais ser o chefe, colocou a anta em seu lugar, mas a anta só fazia besteiras. No segundo mandato a anta foi tirada antes do tempo e o morcego assumiu por dois anos.

Acusado de todos os roubos, e comprovado que havia roubado, o rato foi preso. Mas a vida do rato não era tão ruim... Vez ou outra recebia a visita da galinha, que tinha um cérebro pequeno e só servia mesmo para abate.

Vieram novas eleições. Os animais cansados de tantos anos de roubalheira votaram no leão, que ganhou de lavada. Assumiu a floresta, para descontentamento dos jumentos, burros, mulas, pacas e hienas que ainda apoiavam cegamente o rato, mesmo sabendo que ele havia roubado. É que o rato, durante a sua gestão, dava caroços para esses animais, enquanto os frutos mesmo iam para os seus amiguinhos ratos também.

O leão começou a mudar a floresta. A comida não desaparecia, muitas modificações foram feitas e a floresta avançava. Mas isso causou descontentamento nos outros ratos, que então armaram uma armadilha contra o leão. Pediram a nove abutres que dessem um jeito de inocentar o rato, e assim eles fizeram. O rato saiu da gaiola se dizendo o animal mais santo da floresta.

Os jumentos, os burros, as mulas, as pacas  e os veados fizeram uma grande festa.

Enquanto o leão governava, os abutres faziam de tudo para atrapalhá-lo. Interferiam em cada decisão, mas para isso usavam um veado que a toda hora entrava com algum pedido absurdo. O leão não queria ferir as leis da floresta, mas algumas decisões foram tomadas para impedir o avanço dos ratos, e o leão consultou as onças, os patos e os pássaros sobre a possibilidade de intervir.

Mas infelizmente as onças já não eram mais as mesmas de antes. Haviam se transformado em gatinhos medrosos. Os patos até que tentaram, mas sozinhos não poderiam fazer nada... Já os pássaros... Que lástima! Não havia entre eles um líder que tivesse a coragem de uma águia, e não passavam de pombos - daqueles que cagam tudo, não cantam e só enchem o saco. O líder das aves era uma avestruz, que enterrou a cabeça num buraco no chão. Deixaram o leão sozinho.

Enquanto isso, os canários cantores e os pavões, acostumados à vida fácil e a receberem os alimentos de graça, faziam propaganda contra o leão, ajudados pelos papagaios.

Novas eleições vieram. Os abutres deram um jeitinho de manipular o resultado, e o rato foi eleito o rei da floresta novamente. E ai de quem falasse alguma coisa! Um dos abutres mandava prender na mesma hora! Instalou-se uma ditadura na floresta, para a tristeza e indignação da maioria da fauna, com exceção dos burros, antas, mulas, piranhas, ratos, papagaios, corvos, serpentes, abutres e pacas.

O leão, triste, foi para uma floresta distante. Enquanto isso, o rato voltou a roubar como nunca antes. Colocou todos os animais que haviam colaborado com ele, na sua administração, e esses eram os que  mais faziam besteiras. Por exemplo: para tomar conta da justiça, colocou um porco acostumado com os ambientes mais enlameados. Na cultura colocou a gralha e na economia colocou um jumento. Assim a floresta começou a desandar.

Os animais aos poucos foram padecendo de tristeza, enquanto a floresta era devastada pelo que havia de pior na fauna.

Mas Deus, olhando com tristeza tudo isso, falou: "Um dia, leão, você haverá de voltar, e mais forte. Você vai rugir mais forte, a floresta vai reagir e cada um dos animais que ajudou a destruir a minha criação vai pagar caro por isso. Inclusive os que te traíram ou se acovardaram! Que a minha justiça seja feita, e não a dos abutres!"

E todos os animais se animaram, porque Deus é Deus.

Se não for o leão, será um tigre, o guardião de São Paulo, que é um grande amigo de Deus.


Jornal da Cidade