Sede do Banco Central, em Brasília: Copom deve manter Selic em 13,75% ao ano, prevê o mercado.| Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Os olhares do Palácio do Planalto estão atentos à decisão que o Comitê de Política Monetária (Copom) tomará nesta quarta-feira (1º) em relação à taxa básica de juros (Selic). O consenso de mercado é de que ela seja mantida em 13,75% ao ano, para combater a inflação e aproximar as expectativas da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O presidente Lula tem criticado a política de juros. Em encontro com reitores de universidades federais no último dia 19, ele questionou a atuação do Banco Central autônomo e o atual patamar da taxa Selic. “Qual é a lógica da desconfiança que o mercado tem de tudo que a gente fala de investimento? Eu não vejo essa gente falar uma vez de dívida social”, disse na ocasião.
Ele também criticou o atual patamar da meta de inflação, de 3,25% para este ano e 3% para 2024, sugerindo que uma meta de 4,5% seria mais adequada. Isso gerou enorme incerteza sobre o rumo da inflação futura, diz Igor Velecico, economista-chefe e sócio da Genoa Capital.
As expectativas de inflação para o médio e longo prazo estão aumentando, segundo o boletim Focus, que apresenta as estimativas de instituições consultadas semanalmente pelo BC. As projeções para o IPCA em 2023 vem aumentando há sete semanas e já alcançaram 5,74%. Para o próximo ano, elas também estão aumentando. Eram de 3,65% há quatro semanas e agora estão em 3,90%.
Cenário parecido vivem as projeções para os anos seguintes. A sinalização para 2025 é de uma inflação de 3,50%. Há quatro semanas era de 3,25%. E para 2026, os números também variaram nessa direção. É, segundo a XP Investimentos, um reflexo do risco de políticas fiscais e parafiscais (crédito dos bancos públicos) mais expansionistas à frente e à discussão informal de que o CMN pode alterar a meta de inflação para os próximos anos.
A piora nas expectativas de inflação e as dúvidas sobre a política fiscal levaram a aumentos também nas projeções para a própria Selic. Até outubro, o mercado acreditava que a taxa terminaria 2023 em 11,25% ao ano. Agora, a mediana das projeções é de 12,5%.
Ou seja, ainda existe a expectativa de que o BC corte juros neste ano, mas a percepção é que o espaço para reduções está menor. O juro, portanto, ficará em patamares elevados por mais tempo. Essa piora nos ânimos se reflete nos prognósticos para o ano que vem: o ponto médio das expectativas para a Selic ao fim de 2024 passou de 8% há três meses para 9,5%.
“O cenário para este ano e, até mesmo para os seguintes, é bastante incerto, dado que temos eventos importantes à frente como discussão da reforma tributária e arcabouço fiscal, entre demais pautas”, diz Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC.
O superintendente da Assessoria Econômica da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), Everton Gonçalves, aponta que a manutenção da Selic no nível atual indica uma redução nas taxas de juro reais, devido ao aumento nas expectativas inflacionárias. “Entretanto, [a Selic] permanece em terreno fortemente contracionista”, destaca. E, também, nos maiores patamares entre as principais economias.
Postura "vigilante" do Copom será mantida, acredita Itaú
O Itaú projeta que o Copom deve reforçar a sinalização da postura vigilante da política monetária, para perseverar no processo de desinflação até que a convergência às metas e a ancoragem das expectativas sejam alcançadas. Na avaliação do banco, o Comitê não hesitará em retomar o ciclo de ajuste (isto é, alta no juro) caso o processo de redução das expectativas de inflação não ocorra como o esperado.
“O comitê deve sinalizar ainda que vê riscos simétricos para a inflação, com alertas adicionais não só para a evolução das contas públicas – particularmente à luz dos projetos aprovados no Congresso ao final do ano passado, com expectativa de aumento de despesas –, mas também para os debates recentes do arcabouço de política econômica/monetária, em especial, discussões acerca da definição das metas de inflação para os próximos anos, e seus potenciais impactos sobre preços de ativos e ancoragem das expectativas”, aponta o Itaú, em relatório.
Vandré Kramer, Gazeta do Povo