'Esta é uma guerra entre uma ditadura e a democracia', disse combatente
Dois soldados ucranianos relataram à rede CNN Internacional os momentos de terror que viveram num bunker à luz de velas a sudoeste da cidade de Bakhmut. Por várias semanas, Andriy e Borisych enfrentaram centenas de combatentes pertencentes ao grupo Wagner, um poderoso grupo de mercenários utilizado como reforço do ditador russo Vladimir Putin na atual fase da invasão da Ucrânia. A milícia age também em outros locais, especialmente na África e na Síria.
Disfarçado com uma máscara de esqui, Andriy relatou à CNN um tiroteio aparentemente interminável quando foram atacados por soldados do Wagner Group. “Estávamos lutando por cerca de dez horas seguidas. Eles não vinham em ondas, mas numa única frente interminável”, disse o soldado ucraniano. “Havia cerca de 20 soldados do nosso lado. E uns 200 do outro lado.”
A estratégia de Wagner consiste em enviar uma primeira onda de combatentes, composta principalmente de recrutas inexperientes retirados das prisões russas em troca de um possível perdão de suas penas. Eles sabem pouco sobre táticas militares e estão mal equipados. A maioria apenas espera que, se sobreviver ao contrato de seis meses, possa ir para casa em vez de voltar para uma cela.
Somente quando a primeira onda está esgotada ou reduzida, o grupo Wagner envia lutadores mais experientes, muitas vezes dos flancos, em um esforço para ultrapassar as posições ucranianas.
Andriy diz que enfrentar o ataque foi uma experiência aterrorizante e irreal. “Nosso atirador estava quase enlouquecendo, porque estava atirando nos russos. E, mesmo atingidos, eles não caíam. E então, depois de algum tempo, quando, talvez por causa da perda de sangue, ele simplesmente cai”.
Andriy compara a batalha a uma cena de um filme de zumbi. “Eles estão escalando os cadáveres de seus companheiros, pisando neles”, diz o soldado. “Parece que é muito, muito provável que eles estivessem tomando alguma droga antes do ataque.”
O relato de Andriy sobre a tática do Wagner Group corresponde a um relatório da inteligência ucraniana obtida pela CNN. Segundo esse relatório, se as forças do Wagner conseguirem se posicionar, o apoio da artilharia permite cavar trincheiras e consolidar suas conquistas. De acordo com as interceptações ucranianas, muitas vezes falta coordenação entre Wagner e o Exército russo.
Segundo a CNN, Yevgeny Prigozhin, chefe do Wagner Group, disse que sua milícia é uma “organização militar exemplar que cumpre todas as leis e os regulamentos necessários” da guerra moderna.
A unidade de Andriy diz ter capturado um combatente do Wagner Group, cuja história é tão trágica quanto suas táticas são primitivas e brutais. De acordo com uma gravação do interrogado, o homem é engenheiro, mas vendia drogas para ganhar algum dinheiro. Ele se ofereceu para se juntar ao grupo na crença de que isso eliminaria sua ficha criminal, para que sua filha tivesse menos problemas para seguir seu sonho de se tornar uma advogada.
Andriy, que é da cidade de Odessa, se juntou poucos dias após a invasão russa, diz que não importa quantos mais combatentes sejam enviados para invadir suas posições, eles resistirão. “A maioria dos meus meninos são voluntários. Eles tinham (a) bons negócios, tinham (um) bom emprego, tinham um bom salário, mas vieram lutar pelo país. E isso faz muita diferença”, diz.
“Esta é a guerra pela liberdade. Não é nem mesmo a guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Esta é uma guerra entre uma ditadura e a democracia.”
Revista Oeste