segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Deputados torraram R$ 211 milhões em autopromoção em 4 anos, revela Lúcio Vaz

 

o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, gastou muito com autopromoção| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.


Os deputados federais consumiram R$ 211 milhões em divulgação da atividade parlamentar – ou autopromação – no mandato de 2019 a 2022. Quarenta e cinco deputados gastaram mais de R$ 200 mil com divulgação no ano passado. Entre eles estão o atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, Paulo Pimenta (PT-RS), e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR). Jéssica Salles (MDB-AC) torrou R$ 453 mil em divulgação (86% da verba) só em 2022.

Jéssica investiu R$ 1,4 milhão em divulgação das suas atividades durante o seu mandato. Nas eleições de 2022, fez 20,5 mil votos e não conseguiu a reeleição, mas ficou como suplente, ficando na 9º posição. Ela gastou R$ 453 mil em divulgação em 2020 – 86% dos R$ 524 mil gastos com a cota para o exercício do mandato – o “Cotão”.

A deputada investiu na produção e distribuição de material de divulgação do seu mandato em rádios e sites do interior do estado. Em alguns casos, foram feitos pagamentos diretos a esses veículos. A partir de junho, a deputada suspendeu os gastos com divulgação, mas gastou R$ 106 mil em outubro e R$ 94 mil em novembro, quando pagou R$ 50 mil pela impressão de 25 mil informativos de divulgação do seu mandato.

A maior despesa custeada com o “Cotão” no ano passado – R$ 546 mil – foi feita pela deputada Joenia Wapichana (REDE-RR), atual presidente da Funai. O seu maior gasto foi com passagem aérea – R$ 128 mil. Ela gastou R$ 115 mil com aluguel de veículos – cerca de R$ 10 mil por mês. Os carros mais utilizados foram o Toyota SW4 e o Amarok.

O deputado Bilac Pinto (União-MG) torrou em divulgação do mandato R$ 360 mil dos R$ 433 mil pagos pelo “Cotão” – 83% do total. Ele pagou R$ 30 mensais para uma empresa que produzia materiais para divulgação das atividades parlamentares do deputado em redes sociais e num website. Não foi reeleito. Marx Beltrão (PP-AL) investiu em divulgação R$ 332 mil dos R$ 462 usados. Foi reeleito.


A gastança dos petistas

O deputado Paulo Pimenta, hoje ministro da Comunicação Social, investiu muito em divulgação do seu mandato pelas redes sociais, principalmente no Twitter e no Facebook. Mas, em outubro, retomou uma antiga prática dos parlamentares. Gastou R$ 38,8 mil com a impressão de 50 mil jornais informativos para divulgar o seu mandato parlamentar.

Um dos contratos de Pimenta previa serviço de divulgação “com a finalidade de tirar fotos e fazer vídeos do deputado com prefeitos, vereadores, etc, para o Facebook”. Em outro, a finalidade era tirar fotos do deputado com prefeitos, vereadores e secretários da Região Metropolitana de Porto Alegre. Questionado pelo blog se faz sentido utilizar dinheiro público com propaganda do próprio mandato, o ministro respondeu: “O recurso de divulgação de atividade parlamentar só pode ser utilizado para o mandato parlamentar”.

A deputada Gleisi gastou quase a metade da sua cota para o exercício do mandato com divulgação da atividade parlamentar. Foram R$ 244 mil com autopromoção para um total de R$ 446 mil gastos. Entre as suas despesas, estão R$ 45 mil para “publicidade no Facebook". O blog apurou que, entre os maiores partidos, o PT foi quem utilizou o maior percentual do “Cotão” com divulgação - 26% do total. Oito deputados do PT gastaram mais de R$ 200 mil com divulgação. Diante desses fatos, o blog perguntou se faz sentido utilizar dinheiro público com propaganda do próprio mandato.

A presidente do PT respondeu: “O uso da cota da Câmara dos Deputados para divulgação das atividades dos parlamentares é previsto pelo Ato da Mesa nº 43/2009, que instituiu a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar. O artigo 2ª, inciso XII prevê a divulgação da atividade parlamentar. Diante disso, investimentos com comunicação são prestação de contas do mandato, de emendas destinadas aos municípios e instituições do Estado e de projetos apresentados, sendo legítimos e legalmente ressarcidos pelo Legislativo”.


“Publicidade é inarredável”, diz Câmara

A Câmara proíbe a divulgação da atividade parlamentar no período de 120 dias anteriores à data das eleições. Mas informa que, de acordo com a Lei 9.504/97, que estabelece normas eleitorais, é possível a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que não se mencione a possível candidatura ou se faça pedido de votos ou de apoio eleitoral.

Segundo a Câmara, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adota entendimento que “privilegia o princípio da publicidade”, não incidindo penalidade em caso de veiculação de informativo no qual o parlamentar divulgue suas atividades legislativas nos quatro meses que antecedem às eleições.

O Ato da Mesa da Câmara 20/2012 reduziu de 180 dias para 120 dias anteriores às eleições o prazo em que fica limitada a divulgação do mandato. “Desse modo, simplifica-se sobremaneira a sistemática legislativa que atende às eleições, além de propiciar aos deputados a observação do princípio da publicidade. A vantagem maior dessa alteração é assegurar aos cidadãos contribuintes o conhecimento e acompanhamento de todos os atos públicos praticados pelos deputados. A publicidade de tais atos, conforme o próprio nome atesta, é inarredável ao Parlamento”, registra o Ato 40/2012.


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Quem gastou mais com autopromoção

parlamentar total (R$ mil) divulgação (R$ mil) percentual

Jéssica Sales (MDB-AC) 524 453 86%

Bilac Pinto (União-MG) 433 360 83%

Marx Beltrão (PP-AL) 462 332 72%

Nelson Barbudo (PL-MT) 475 325 68%

Jaqueline Cassol (PP-RO) 532 298 56%

Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) 519 292 56%

Hélio Leite (União-PA) 488 286 59%

Gustavo Fruet (PDT-PR) 464 280 61%

Mara Rocha (MDB-AC) 521 271 52%

Ricardo da Karol (PDT-RJ) 418 269 64%

Pastor Gil (PL-MA) 505 266 53%

Carlos Bezerra (MDB-MT) 298 262 88%

Severino Pessoa (MDB-AL) 481 254 53%

Frei Anastacio Ribeiro (PT-PB 504 251 50%

Igor Kannário (União-BA) 461 251 54%

Vander Loubet (PT-MS) 482 248 51%

Beto Faro (PT-PA) 493 248 50%

Ruy Carneiro (PSC-PB) 496 246 50%

Eduardo Costa (PSD-PA) 487 246 50%

Chiquinho Brazão (União-RJ) 429 246 57%

Prof Dayane Pimentel (União-BA) 471 244 52%

Glaustin da Fokus (PSC-G) 410 243 59%

Aline Gurgel (Republicanos-AP) 520 243 47%

Haroldo Cathedral (PSD-RO) 360 243 67%

Silvia Cristina (PL-RO) 495 242 49%

João Maia (PL-RN) 506 242 48%

Nicoletti (União-RR) 525 232 44%

Efraim Filho (União-PB) 442 227 51%

Gleisi Hoffmann (PT-PR) 466 223 48%

Julian Lemos (União-PB) 473 223 47%

Paulo Teixeira (PT-SP) 435 219 50%

Josivaldo JP (PSD-MA) 435 218 50%

AJ Albuquerque (PP-CE) 456 218 48%

Paulo Pimenta (PT-RS) 456 218 48%

Hugo Motta (Rep-PB) 487 217 45%

Rubens Pereira Júnior (PT-MA) 495 212 43%

José Nelto (PP-GO) 430 211 49%

Cássio Andrade (PSB-PA) 493 210 43%

Expedito Netto (PSD-RO) 510 208 41%

Luiz Antônio Corrêa (PP-RJ) 415 207 50%

Daniel Almeida (PCdoB-BA) 475 204 43%

Alexandre Padilha (PT-SP) 423 203 48%

Euclydes Pettersen (PSC-MG) 415 203 49%

Jenecias Noronha (PL-CE) 495 203 41%

Coronel Tadeu (PL-SP) 455 201 44%

Maiores gastos totais

parlamentar valor (R$ mil)

Joenia Wapichana (Rede-RR) 550

Jesus Sérgio (PDT-AC) 537

Jaqueline Cassol (PP-RO) 530

Shéridan (PSDB-RR) 528

Jéssica Sales (MDB-AC) 524

Nicoletti (União-RR) 523

Mara Rocha (MDB-AC) 520

José Ricardo PT-AM) 520

Heitor Freire (União-CE) 517

Ottaci Nascimento (Solidariedade-RR) 515

Leo de Brito (PT-AC) 515

Professora Marcivania (PCdoB-AP) 514

Edio Lopes (PL-RR) 514

Aline Gurgel (Republicanos-AP) 513

Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) 513

Expedito Netto (PSD-RO) 509

João Maia (PL-RN) 506

Frei Anastacio Ribeiro (PT-PB) 501

Fonte: Câmara dos deputados



Lúcio Vaz é jornalista e cobre a política em Brasília há 30 anos, revelando mordomias, privilégios, supersalários, desvios de recursos públicos e negociatas nos três poderes. Com passagens por O Globo, Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, ganhou os prêmios Embratel e Latinoamericano de Jornalismo Investigativo ao descobrir a Máfia dos Sanguessugas. Autor dos livros "A Ética da Malandragem - no submundo do Congresso" e "Sanguessugas do Brasil"


Gazeta do Povo