sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Rodrigo Constantino: 'O Brasil afunda ou não?'

 

Ilustração: mossolainen nikolai/Shutterstock


Todas as nações sob ditaduras comunistas acharam, em algum momento do processo, que poderiam evitar o pior. Até ser tarde demais


OBrasil é como dejeto na água: boia, mas não afunda. Essa é a metáfora muito utilizada por algumas pessoas que lamentam as oportunidades perdidas em nosso país, mas acham que o pior também será sempre evitado. Não deslanchamos, mas tampouco naufragamos de vez. Eu mesmo já tive essa percepção quando o PT foi governo no passado, e brincava nas palestras que tinha de dizer baixinho a minha conclusão: o MDB salvaria o Brasil de Dilma!

Ocorre que não há nada escrito em pedra que o Brasil jamais será comunista. Para evitar essa praga é preciso ter instituições mais sólidas, uma cultura da liberdade mais disseminada, uma mídia atenta, grupos de interesse bastante organizados e coesos, Forças Armadas independentes e patriotas etc. Sim, nossa economia é complexa, tem o agronegócio que é uma potência, as indústrias, os bancos, o comércio e o varejo, muitos empresários parrudos. Mas nós vimos como foi fácil mandar a polícia na porta de alguns deles pelo “crime” de apoiar Bolsonaro. E quanto às Forças Armadas, melhor nem comentar…

O mais votado parlamentar do país sendo impedido de parlar na praça pública da era moderna sem ter cometido qualquer crime

O fato é que o comunismo segue avançando, e os comunistas corruptos estão de volta ao poder, com mais sede de poder ainda. E viram como foi fácil dobrar seus adversários, calar os “dissidentes” e inventar narrativas fajutas que a velha imprensa ajudou a divulgar com louvor. Em nome da “democracia”, as liberdades básicas foram destruídas num piscar de olhos. Muitos acharam que ficaria restrito aos mais “radicais” dos bolsonaristas, mas já está claro que o buraco é bem mais embaixo.

Nikolas Ferreira
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado eleito com o maior número de votos em 2022 | Foto: Reprodução/Redes sociais

Nikolas Ferreira, o deputado mais votado do país, tem sido alvo de perseguição e censura, como tantos outros. O Telegram resolveu questionar uma decisão do ministro Alexandre de Moraes de suspender sua conta, alegando que falta embasamento na denúncia. Agora vamos pensar um pouco sobre isso: o mais votado parlamentar do país sendo impedido de parlar na praça pública da era moderna sem ter cometido qualquer crime! E a mídia em silêncio ou aplaudindo!

A crença de que essa turma será capaz de frear o ímpeto autoritário petista caso Lula abuse demais do poder e insista em sua agenda comunista do Foro de SP parece um tanto ingênua. Não resta dúvida de que o “sistema” tem seus ícones neste governo, que Alckmin não é vice-presidente por acaso, que Alexandre de Moraes nunca foi petista, que Arthur Lira e Rodrigo Pacheco tampouco estão casados com a pauta vermelha. Mas depositar toda a esperança nessa gente é brincar com fogo e menosprezar a inteligência de figuras como Dirceu.

Meu intuito não é ser catastrofista ou alarmista, e cantar o fim do Brasil de imediato. Considero possível o “sistema” podre ser mais forte do que Lula, sim, e que numa eventual batalha entre titãs, o petista e o Foro de SP sejam os derrotados. Só estou dizendo que a possibilidade de resultado distinto é real, existe e não pode jamais ser ignorada. Todas as nações sob ditaduras comunistas acharam, em algum momento do processo, que poderiam evitar o pior. Até ser tarde demais.

O que mais me assusta é o esforço de tanta gente em normalizar Lula e seu governo. O presidente diz na cara dura que apoia os regimes de Cuba, Venezuela e Nicarágua, mas os “democratas” se mostram decepcionados ou preocupados, com a esperança tola de que Lula resolva ser mais moderado e passe a condenar os regimes que apoiou a vida inteira. Não há qualquer base para essa crença ingênua. Lula está sendo Lula, e não é fingindo que ele é outra coisa que o risco comunista será afastado.

Quando vejo investidores gringos elogiando as falas de Fernando Haddad em Davos, fica mais claro ainda como há uma turma disposta a mergulhar na alienação em prol do conforto ou de lucros momentâneos. Agora Haddad virou um fiscalista responsável, por acaso?! É uma piada de mau gosto, de quem escolhe deliberadamente ignorar a essência petista.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad | Foto: World Economic Forum/Sandra Blaser

Lenin teria dito que compraria a corda da burguesia que seria usada para enforcá-la. Às vezes acho que muitos capitalistas brasileiros agem dessa forma suicida. Eles aceitam participar desse teatro farsesco de que o Brasil continua vivendo uma normalidade institucional, para não se dar conta da real ameaça representada pelo PT e o Foro de SP.

Se os minúsculos Uruguai e Paraguai se levantam contra o absurdo, condenando o silêncio das esquerdas diante de abusos ditatoriais no continente, a gigante China aplaude a “integração regional” e incentiva a luta pela “paz, desenvolvimento e democracia” dos povos latino-americanos. Teremos a “paz” que ceifou a vida de milhares em protestos na Praça Celestial, o “desenvolvimento” que produziu só miséria na Venezuela e a “democracia” de Ortega na Nicarágua, que prendeu todos os opositores políticos.

É assustador ver a marcha vermelha da insensatez no continente. E mais assustador ainda é ver a grande quantidade de brasileiros disposta a fingir que, por algum motivo qualquer, não há a menor possibilidade de o Brasil seguir no mesmo destino rumo ao abismo comunista. Quem foi que disse que o Brasil não afunda?

Leia também “A essência elitista de Davos”

Reviste Oeste