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udo ia bem com as Lojas Americanas, até que nada ia bem. No dia 11 de janeiro, pegando os acionistas de surpresa, a mega-rede de lojas informou ter encontrado um rombo de R$ 20 bilhões em suas contas. Dias depois, o valor foi corrigido para R$ 41,2 bilhões. As “inconsistências contábeis”, como foram chamadas, eram dívidas que não haviam sido registradas corretamente nos balanços da empresa e que, por isso, vinham passando despercebidas. Agora, terão de ser resolvidas via recuperação judicial. A dívida acumulada é tão grande que equivale a quatro vezes o valor de mercado das Americanas. Alguns dos principais credores são bancos públicos. O dinheiro que as Americanas devem a essas instituições seria suficiente para financiar, por um ano, o Bolsa Família de mais de 300 mil beneficiários. O =igualdades desta semana ajuda a entender o tamanho desse rombo.
Dos cinco homens mais ricos do Brasil, três são acionistas das Lojas Americanas: Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Teles e Carlos Alberto Sicupira. Juntos, somam cerca de R$ 160 bilhões em patrimônio. Esse valor seria suficiente para pagar quatro vezes a dívida das Americanas, estimada em R$ 41,2 bilhões.
O pedido de recuperação judicial das Americanas, com R$ 41,2 bilhões em dívidas, é o quarto maior já registrado no Brasil. Fica atrás das recuperações judiciais da Odebrecht (R$ 122 bilhões, em valores corrigidos), da Oi (R$ 90,5 bilhões) e da Samarco (R$ 57,7 bilhões).
Após o anúncio do rombo, em 11 de janeiro, as ações das Lojas Americanas perderam mais de 90% de seu valor. Eram cotadas em R$ 12 horas antes de a dívida bilionária ser anunciada. Dias depois, quando a crise estava instalada, a ação era cotada em apenas R$ 0,80. Ou seja: com o valor de uma ação das Americanas no dia 11 de janeiro, seria possível comprar 15 ações no dia 24 de janeiro.
Antes do anúncio das “inconsistências contábeis”, as Lojas Americanas eram avaliadas em R$ 10,8 bilhões. As dívidas da empresa, hoje, somam R$ 41,2 bilhões. Isso significa que, com o valor necessário para saldar essa dívida, seria possível comprar a própria empresa quatro vezes. A discrepância é ainda maior se for considerado o valor atual de mercado das Americanas. Desde o anúncio do rombo, o valor da empresa despencou e hoje é estimado em R$ 641 milhões. Menos de um décimo do que era vinte dias atrás.
A dívida ativa do empresário Eike Batista com a União é de R$ 4 bilhões, segundo os dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. É um valor altíssimo, mas que não chega perto do valor que as Lojas Americanas devem a seus 8 mil credores. A rede varejista deve R$ 41,2 bilhões – dinheiro suficiente para saldar as dívidas de Batista dez vezes.
De acordo com a lista de credores entregue pelas Americanas em seu processo de recuperação judicial, as maiores dívidas acumuladas pela empresa são com bancos. Dentre eles, bancos privados internacionais, como o Deustche Bank, a quem as Americanas devem R$ 5,2 bilhões. Mas há uma fatia grande da dívida vinculada a bancos públicos. A empresa registrou, no plano de recuperação, dívidas de R$ 1,3 bilhão com o Banco do Brasil; R$ 501 milhões com a Caixa Econômica Federal; R$ 276 milhões com o BNDES; além de outras dívidas com bancos regionais e estaduais. (No caso do BNDES, segundo a assessoria do banco, a fiança foi acionada e, portanto, o banco não é mais credor das Americanas. A dívida passou para os fiadores.) Ao todo, a Americanas acumulou R$ 2,3 bilhões em dívidas com bancos públicos. Esse valor pagaria um ano de Bolsa Família para mais de 300 mil beneficiários, considerando o valor médio do benefício, que atualmente é de R$ 614.
Boa parte da dívida das Lojas Americanas é com empresas ligadas a seus principais acionistas – no caso, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. São elas a B2W Lux, a JSM Global, a Ame Digital e a Natural da Terra. Algumas delas são subsidiárias do grupo Americanas. Juntas, têm R$ 7,6 bilhões a receber do grupo varejista – o que equivale a um quinto da dívida total de R$ 41,2 bilhões.
Fontes: Forbes Brasil; Relação de Credores das Lojas Americanas; Pedido de Recuperação Judicial das Lojas Americanas; Pedido de Recuperação Judicial da Odebrecht; Pedido de Recuperação Judicial da Oi; Pedido de Recuperação Judicial da Samarco; Google Finanças; Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social.
Por Lara Machado, Maria Júlia Vieira e Renata Buono, Americanas