Eduardo Ribeiro revela plano da sigla para as eleições municipais
O empresário Eduardo Ribeiro, 34, assumiu a presidência nacional do partido Novo em 2020. Com menos de dois anos de gestão, o bioquímico de formação disse que se decepcionou com o fundador da sigla João Amoêdo. No ano passado, Amoêdo declarou apoio ao então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora, depois de quase um mês de gestão petista, Ribeiro explicou que, entre tantas preocupações com o governo do PT, uma em especial chama sua atenção: a tentativa de reescrever a História. “É um revisionismo”, afirmou ele em entrevista a Oeste. “O Lula está tratando o impeachment da Dilma Rousseff como ‘golpe’. A própria Secretaria de Comunicação Social está dizendo que vai combater fake news, mas, ao mesmo tempo, propaga mentiras quando fala que os empréstimos do BNDES não oferecem riscos.”
Além disso, o presidente do Novo comentou sobre as perspectivas do partido com relação ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo-MG), sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Manifestações e sobre os planos da legenda para as eleições municipais, que acontecem em 2024.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O senhor vê o governador Romeu Zema (Novo-MG) como o grande líder do partido nos próximos anos ou como um potencial candidato à presidência da República?
Ainda é muito cedo para falar de qualquer candidatura à presidência da República. Contudo, ficamos muito felizes em ver como o governador foi muito reconhecido, não só em Minas Gerais — onde ele foi eleito no primeiro turno —, mas nacionalmente. Certamente, o Zema é um grande líder no Brasil, especialmente no nosso partido. Ele foi o nosso primeiro nome em algum cargo do Poder Executivo e isso nos deixa muito orgulhosos. Contudo, ele está muito focado em Minas e está corretíssimo em querer avançar ainda mais por lá. Foram quatro anos em que pegamos um Estado absolutamente quebrado e falido. Conseguimos acertar as contas a duras penas. Agora, com o Estado nos trilhos, pagando os funcionários e os fornecedores em dia, vamos avançar em uma agenda de reformas e, com a liderança de Zema, tornar Minas Gerais a segunda maior economia do país. Claro que isso não depende somente do governador, mas estamos na direção.
No último pleito, o Novo fez poucos deputados em Brasília. Qual é a estratégia do partido para as eleições municipais de 2024?
Essa eleição passou uma sensação de verticalização. No momento de escolher seu deputado, a população considerou algum nome que fosse do partido do candidato à presidência em quem ela votou. Nós não conseguimos romper a polarização e sofremos desse mal. Além disso, não ter base é muito prejudicial, pois o Novo tem uma rotatividade muito grande. Somos um partido que traz pessoas de fora da política, então tornar essas pessoas conhecidas pela população leva tempo. Infelizmente, em 2019, nosso diretório nacional decidiu não crescer tudo o que o partido poderia crescer. Recentemente, trouxemos para o Novo um prefeito, da cidade Patos de Minas (MG), que era ao partido em 2019, mas que se desfiliou em 2020. Na época, o Novo decidiu não lançá-lo, e, por isso, ele foi para outra sigla e se elegeu. Isso aconteceu em diversas cidades. Foi um erro que não vamos cometer novamente. Para 2024, seremos muito ousados e tentaremos ir em qualquer cidade que tenha candidatos ou dirigentes do Novo dispostos e mobilizados. Vamos trabalhar para construir a estrutura necessária a fim de lançarmos candidatos no maior número de municípios.
Como o senhor e o partido receberam os posicionamentos do João Amoêdo, fundador e ex-presidente do Novo, durante as eleições?
Fiquei extremamente decepcionado. Não esperava que ele fosse tomar esse posicionamento. Imaginei que ele pudesse aderir ao voto nulo, como algumas pessoas do Novo fizeram. Mas é quase inimaginável alguém do Novo votar no Lula. Então, isso causou uma revolta grande no partido que caminhou para uma instabilidade e até uma insustentabilidade aqui dentro e ele acabou saindo. Agora isso é uma página virada. Amoêdo tem seus méritos. Sempre o respeitamos e o admiramos por conseguir tirar um partido do papel, sem deixar de lado os valores e os princípios que todos comungamos. O Novo não tem dono, pois é uma instituição. Vamos seguir o nosso rumo em um governo que somos absolutamente contrários. Anunciamos que seriamos oposição no mesmo dia em que foi confirmada a eleição do Lula.
Qual avaliação o senhor faz sobre os 20 dias de governo Lula?
Péssimo, mas não difere do que esperávamos. Nós já sabíamos que iria ser assim. O Lula nunca mentiu sobre isso. Enganou-se quem achou que ele pudesse mudar de opinião. Agora, ele tem uma base bem mais radical do que tinha em 2003. É natural que isso se traduza nos discursos dele e nas propostas de seus ministros. Ele tem uma equipe de economia batendo a cabeça para fechar um orçamento demagógico e que não cabe no bolso dos brasileiros. Certamente vem um aumento de impostos em um país que não tem condições de pagar impostos. Em nenhum momento se falou em cortar gastos. Além disso, Lula faz sinalizações a ditaduras cubanas e venezuelanas como se fossem normais. Estão comentando, até mesmo, sobre a proposta de moeda única com a Argentina. Tudo isso foi um show de horrores até agora.
O senhor é a favor da CPI das Manifestações?
O Congresso tem total legitimidade para abrir uma CPI. O posicionamento contrario de Lula sobre isso, por mais que venha revestido de um discurso jurídico, denuncia que ele quer ter o controle da narrativa. Uma CPI requer um processo mais político e isso pode tirar o foco daquilo que o governo queira. Mas, acima de tudo, defendo as instituições.
Rute Moraes, Revista Oeste