domingo, 29 de janeiro de 2023

‘PSDB perdeu a conexão com a sociedade’, reconhece Carlos Sampaio

Deputado avalia o início dos governos Lula e Tarcísio e se manifestou a favor da CPI das Manifestações

Carlos Sampaio comentou a recente mudança na liderança do partido
Carlos Sampaio comentou a recente mudança na liderança do partido | Foto: Divulgação

O PSDB perdeu a conexão com a sociedade brasileira. É a avaliação do deputado federal Carlos Sampaio (SP), 59, filiado à sigla desde que iniciou a carreira política como vereador na cidade de Campinas. Na última sexta-feira 27, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), assumiu a presidência nacional da legenda. Leite, que já comanda o Estado pela segunda vez, é considerado por Sampaio como uma possibilidade de “reconexão” do partido com o eleitorado.

Precisamos recuperar esse protagonismo e, a meu ver, devemos ser oposição ao governo Lula como centro-direita”, disse o parlamentar em entrevista a Oeste. “Seria no sentido de cuidar com muito carinho das questões sociais, mas ter uma agenda econômica liberal com privatizações e concessões.”

Oeste, além da nova “roupagem” do PSDB, o deputado avaliou positivamente o começo da gestão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se manifestou a favor da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Manifestações — que pode apurar os atos de vandalismo contra os prédios dos Três Poderes — e criticou o início do governo do presidente Lula.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o senhor avalia o início da gestão Tarcísio em São Paulo?

O Tarcísio começou seu governo de forma muito positiva. Primeiro, ele escolheu pessoas com capacitação técnica para ficar a frente das secretarias de São Paulo. Além disso, demonstrou preocupação com coisas que são de extrema importância para o Estado, como a redução de impostos. Ele reduziu o imposto para a aviação até 2024. Essa foi uma medida que amplia o acesso ao transporte aéreo e vai ao encontro do que Tarcísio dizia durante a sua campanha eleitoral. O presidente Lula vetou uma aula de robótica nas escolas, que era de um projeto que tramitou na Câmara dos Deputados, e, ao mesmo tempo, o Tarcísio anunciou o curso de robótica integrado no currículo escolar de SP. Ou seja, o governador está afinado com a população e com a evolução do Estado. Até mesmo a questão da privatização em algumas estatais de SP, o Tarcísio deixou claro que está sendo debatida. Todas essas são ações que demostram que ele está no caminho correto. O governador também reconhece as boas ações da gestão de 28 anos de PSDB em São Paulo e isso é bom. Estou muito feliz com esse início de governo do Tarcísio.

O senhor é a favor da CPI das Manifestações?

Sim. Está definido que ela será instalada. Quem propôs a CPI [a senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS)] o fez bem-intencionado, mas, confesso que não sei se esse é o momento ideal para começar uma CPI. Essa questão precisa ser aferida, pois estamos vivemos um momento muito conturbado.

Qual avaliação o senhor faz sobre os quase 30 dias de governo Lula?

Os retrocessos que o Lula anunciou no início do seu mandato são muito ruins para o país. A primeira medida que ele tomou foi, justamente, estourar o teto de gastos. Agora o Lula pode alterar o teto de gastos a qualquer momento. Ele ainda mudou a lei das estatais para favorecer o Aloizio Mercadante na presidência do BNDES, ou seja, ele deixou de usar um critério técnico e lógico na indicação de um presidente para ajudar um companheiro político. O presidente ainda sinalizou que pode fazer revisões na Reforma Trabalhista e na Reforma Previdenciária, um retrocesso inconcebível. O petista também anunciou a suspensão das privatizações que haviam sido feitas no governo anterior. Lula está mostrando claramente que deseja continuar usando estatais, mesmo que ineficientes, para atender a ‘companheirada’ do PT. Ele tirou o Coaf [órgão de inteligência do governo que atua no combate a corrupção] do Banco Central para colocar sob o controle do ministro Fernando Haddad. Isso é uma calamidade. Lula começa seu governo anunciando empréstimos do BNDES para os países do Mercosul. Ele prefere que o banco financie países como Cuba e Venezuela, que devem juntos mais de US$ 500 milhões. Sou tão preocupado com esse tema que possuo a autoria de um projeto de lei que tipifica como crime a gestão fraudulenta. Desse modo, o diretor do BNDES que autorizar um empréstimo, sem as garantias exigidas por lei, vai cometer crime. Não é a ideologia do Lula que deve autorizar o empréstimo. São as garantias e as viabilidades. Além disso, no caso do Coaf, apresentei uma Proposta de Emenda a Constituição e estou coletando assinaturas para mudar o texto constitucional e vincular, definitiva e constitucionalmente, o órgão ao Banco Central.

Como está o andamento da ação que o senhor protocolou na PGR contra o “ministério da verdade” do Lula?

O Ministério Público (MP) distribuiu a ação para outro órgão que integra o MP para emitir um parecer, portanto, está tramitando lá. Em momento algum a ação foi arquivada. Tomei essa medida, não porque sou contra a criação de uma secretaria que venha definir o que é ou não desinformação, mas é que esse decreto ligou a fiscalização a um órgão do governo. Isso deveria ser feito pelo MP, mas nunca por um órgão do governo. Além disso, a lei é quem deve definir o que é desinformação, e não um decreto presidencial. Se cada presidente definir por decreto o que é desinformação, estamos deixando que ele coloque o entendimento dele sobre o tema para favorecer a ele próprio. Estou confiante que a Procuradoria-Geral da República vai suspender liminarmente parte desse decreto, que está errado.

Nesta semana, o PSDB lançou novas lideranças na frente do partido e colocou o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) como presidente da sigla. Como o senhor enxerga essa mudança e quais devem ser os próximos passos da legenda?

O Eduardo Leite já demonstrou ser uma pessoa preparada, equilibrada e com um bom senso capaz de perceber que o PSDB perdeu a conexão com a sociedade brasileira. Ele vem para nos reconectar com a sociedade brasileira. O partido sempre foi uma oposição ao PT, mas com o surgimento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que adquiriu esse protagonismo contra o PT, o PSDB perdeu-se. Precisamos recuperar esse protagonismo e, a meu ver, devemos ser oposição como centro-direita. Seria no sentido de cuidar com muito carinho das questões sociais, mas ter uma agenda econômica liberal com privatizações e concessões. Tudo isso tem a ver com a nossa história, mas nos afastamos disso. Parte do PSDB migrou para a esquerda, com a social-democracia. Contudo, esse campo foi assumido pelo Lula e não podemos nos tornar iguais a ele. Espero que o Eduardo nos conduza por esse caminho de centro-direita. Ele possui todas as qualificações.

Revista Oeste