terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Centauro conclui compra da Nike no País e quer oferecer também serviços

O grupo SBF, controlador da Centauro, rede de lojas de artigos esportivos, concluiu a compra da operação comercial da Nike no Brasil por R$ 1,032 bilhão. Com o fechamento do negócio, anunciado em fevereiro e que recebeu sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no fim do mês passado, o grupo praticamente dobra de tamanho. 


De uma receita de um pouco mais de R$ 3 bilhões vai para cerca de R$ 6 bilhões e se estrutura para por de pé a estratégia de ser uma empresa de referência no mundo do esporte. “Quero ser um ecossistema: conhecer não só o que o consumidor compra, mas toda a sua jornada para oferecer produtos e serviços específicos, como personal trainer, indicação de grupos de corrida, por exemplo”, diz Pedro Zemel, presidente do grupo. 

Pedro Zemel
Comandado por Zemel, SBF está investindo em profissionais de tecnologia. 
Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Ele frisa que a construção desse novo modelo de negócio começa com dois ativos de peso e que, juntos, têm grande sinergia. Um deles é a rede da Centauro, com 209 lojas em 26 estados e 20 milhões de clientes. A varejista será comandada por Claudio Assis, ex-diretor de operações. 

O outro pilar é a distribuição da marca Nike no País, concentrada na nova empresa do grupo que se chamará Fisia. Ela vai reunir as 31 lojas físicas da Nike, o site da marca e a venda dos produtos para outras varejistas. A Fisia será dirigida por Karsten Koeler, que liderava a distribuição da Nike antes da venda da companhia para o grupo SBF. Apesar de a distribuição estar concentrada numa nova empresa, a marca Nike continuará na fachada das lojas. O grupo negociou o direito de explorá-la por dez anos.

Zemel diz que as operações da Centauro e da Fisia serão mantidas separadas, inclusive fisicamente. A sede da Centauro, com 6.300 funcionários continua no bairro paulistano da Lapa, e a da Fisia, com 1.200 empregados, fica no bairro vizinho da zona oeste, na Lapa de Baixo

No entanto, a configuração poderá permitir que o consumidor compre pelo site da Nike e retire o produto na loja da Centauro. A intenção é dar flexibilidade entre canais de vendas. “A Nike.com tem um potencial enorme e os dois negócios juntos conseguem ter uma oferta maior para o consumidor final do que separados”, afirma.

Novas aquisições

Na nova arquitetura do grupo, a holding, comandada por Zemel, vai reunir as áreas de tecnologia, finanças, marketing, logística e a cadeia de suprimentos. São cerca de 500 funcionários que vão ocupar três andares do tradicional Edifício Birmann, na avenida das Nações Unidas, onde antes funcionava a editora Abril.

Isoladas fisicamente, essas áreas atenderão às duas empresas do grupo por enquanto. “Vamos servir a tantas outras que a gente consiga construir ou comprar”, diz o executivo, dando claras indicações dos próximos movimentos que estão no radar do grupo.

A companhia encerrou o terceiro trimestre deste ano com R$ 1,5 bilhão em caixa. Zemel diz que parte dessa cifra foi usada na compra da operação de distribuição da Nike no País. O restante do dinheiro será direcionado na abertura e reforma de lojas da Centauro e investimentos em tecnologia. “Aquisições menores evidentemente cabem nesse cheque, mas se tivermos de fazer um movimento maior, daí é outra discussão.”

O executivo não revela quantas lojas da Centauro serão abertas no próximo ano nem fala qual o crescimento esperado para a companhia, após a compra da distribuição da Nike no País. Mas analistas de mercado que acompanham o desempenho da empresa, que tem ações na Bolsa, calculam que existam entre 20 e 30 novas lojas programadas para 2021. Somadas às reformas das que estão em operação, seriam cerca de 50 pontos de vendas, que demandariam investimentos da ordem de R$ 200 milhões.

Tecnologia

Outra alavanca de crescimento do grupo, além de compra empresas, é a inovação. Por isso a companhia está investindo em profissionais de tecnologia para desenvolver produtos e serviços específicos. Recentemente contratou 100 profissionais, entre engenheiros de software, cientistas de dados e designers, além de ter se aproximado de startups. 

Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo