O noticiário tem trazido, em geral com alarme, mais um lote de notícias (ou de desejos) sobre a situação de dificuldade, perene e aparentemente insolúvel, que atravessam ao mesmo tempo a agricultura, a pecuária e a produção geral de alimentos no Brasil.
O assunto é o de sempre: a “destruição das florestas” deste país, especialmente as da “Amazônia”.
A novidade seria uma espécie de boicote mundial, ou coisa parecida, à produção rural brasileira por parte de “300 grandes empresas” e outras potências do capitalismo moderno, recentemente transformadas em mocinhas da natureza, do ar puro e da “sustentabilidade”.
Em suma: se os produtores brasileiros (que foram escalados para o papel de bandidos desse filme), não pararem de desmatar a Amazônia e incendiar as florestas, o Primeiro Mundo não vai comprar mais nada que venha daqui, nem investir um único tostão no Brasil.
Absurdos construídos com capricho, falsa ciência e muito dinheiro acabam um dia, como eventualmente acaba todo o charlatanismo de vendedor de elixir em feira livre – quando se verifica, pela força dos fatos, que a mercadoria posta à venda é falsa. \
Até lá, porém, fazem um barulho e tanto, como é o caso da “devastação” da Amazônia pelo “agronegócio”. \
Paciência. \
Não há como convencer quem quer ser enganado – o que se pode fazer é chamar de conto do vigário tudo aquilo que é conto do vigário, esperar que o tempo passe e continuar trabalhando. \
Fazer o que?
Há pelo menos uma dúzia de realidades que demonstram a inexistência de relação entre desmatamento e o avanço a agropecuária brasileira – que saiu do nada para tornar-se em 40 anos uma das duas ou três maiores do mundo.
Nenhuma delas serve.
Por exemplo: mais de 70% da produção brasileira de grãos saem de apenas quatro Estados, três dos quais sequer fazem fronteira com a Amazônia.
São o Paraná, o Rio Grande do Sul e Goiás. \
O quarto, Mato Grosso, tem apenas a metade norte do seu território dentro do bioma amazônico. \
Mas o movimento de defesa do planeta sustentável não trabalha com essa aritmética, nem com essa geografia; só aceita a sua própria ciência.
O que o Paraná, por exemplo, tem a ver com a Amazônia?
Um produtor de soja de Ponta Grossa ou Campo Mourão pode perfeitamente passar a vida inteira sem jamais ter ido lá, por um dia que seja.
Há mais paranaenses que conhecem Paris do que São Gabriel da Cachoeira; têm tanto a ver com a floresta amazônica quanto com o Polo Norte.
Mas vá explicar isso para um europeu-raiz.
Missão impossível, pois o sujeito nunca viu um mapa do Brasil; não sabe onde é o Paraná, nem o Amazonas e, para dizer a verdade, nem o Brasil. Também não está interessado em aprender; só está interessado em acreditar.
Se você encarar, digamos, um bom holandês, disser que o Brasil fica na Oceania e fizer uma cara bem séria, há uns 50% de chances do sujeito achar que é isso mesmo.
Aí não há o que fazer.
Enquanto isso, no mundo das coisas reais, o Brasil já colheu neste ano mais grãos do que em todo o ano passado; 50% da próxima safra, que ainda nem foi plantada, já está vendida.
Fatos são um bicho teimoso.
Revista Oeste