LUCKENWALDE, ALEMANHA - Usinas elétricas desativadas são excelentes museus. O Tate Modern de Londres é talvez o mais famoso, mas de Toronto a Xangai, e de Istambul a Sydney, estes motores da era industrial foram reformados como templos da cultura, muito depois de as turbinas terem sido desligadas.
A 50 quilômetros ao sul de Berlim, está o E-Werk Luckenwalde, um novo centro de arte contemporânea em uma antiga central a carvão, inaugurado no dia 14 de setembro. Além de ter três galerias, ele gera eletricidade no próprio local por um processo chamado pirólise de biomassa, em que lascas de madeira são aquecidas a temperaturas acima dos 450º C, e depois resfriadas em um reator. A eletricidade é vendida na rede nacional, e os lucros farão o centro funcionar.
Pablo Wendel, que, com a sua parceira Helen Turner, ajudou a recuperar o empreendimento, disse que espera que produza energia suficiente para o edifício e para até 200 casas. “Nos dias de hoje, falamos muito em sustentabilidade”, observou Wendel, “mas se não pensarmos nesta questão em uma escala maior - em uma escala social, uma escala criativa e artística, e uma escala visual e estética - teremos problemas”.
A noite da inauguração começou com uma obra de Wendel. A antiga correia de transmissão da fábrica que funciona na escuridão, transporta lascas de madeira pelo edifício até uma nova máquina de pirólise no subsolo. A eletricidade gerada acende as luzes do edifício. “É uma bela metáfora de todo o projeto”, disse Wendel, “mostrar que é possível transformar lugares em uma obra de arte”
A inauguração da E-Werk ocorre em um momento em que os vínculos financeiros entre os museus europeus e os produtores de energia chamam cada vez mais a atenção. O British Museum e as Galerias Tate de Londres foram visadas pelos ativistas por causa do patrocínio fornecido pela gigante petrolífera BP; no ano passado o Museu Van Gogh em Amsterdã encerrou a colaboração com a companhia petrolífera Shell.
Outros, como o Prado e os museus Thyssen-Bornemisza de Madri, promoveram parcerias com a Acciona, um conglomerado de energia renovável. Mas a E-Werk é a primeira a trazer a produção de eletricidade no próprio edifício. A antiga usina a carvão foi fundada em 1913, e se tornou parte da infraestrutura estatal da Alemanha do Leste comunista em 1949.
“Sem esta fábrica, não teria havido progresso tecnológico na região”, disse Bernd Schmidt, seu gerente de produção de 1976 a 1994. Depois da queda do Muro de Berlim, a usina passou para a administração da companhia de eletricidade da Alemanha Oriental, que posteriormente faliu. Grande parte do edifício foi preservada: os pisos originais de ladrilhos, enormes portas verdes e uma janela com um vitral com uma mão brandindo os raios.
No segundo e no terceiro andar estão os ateliês que podem ser alugados pelos artistas por três ou quatro euros o metro quadrado. Segundo uma associação profissional de artistas de Berlim, os alugueis dos ateliês no centro da cidade podem chegar a 35 euros o metro quadrado. Os sete ateliês já foram alugados.
Wendel disse que a ideia da E-Werk surgiu quando ele era um artista conceitual que morava em Stuttgart com grandes dificuldades, e teve a ideia de produzir obras de arte que produziam a própria eletricidade. “Os habitantes de Luckenwalde estão muito orgulhosos com o fato de a antiga estrutura da usina continuar viva”, disse Schmidt. “É um exemplo positivo do que pode acontecer quando as pessoas tomam alguma iniciativa”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Louisa Elderton, The New York Times