quarta-feira, 30 de outubro de 2019

BC dos EUA faz terceiro corte seguido de juros, mas sinaliza pausa

NOVA YORK | FINANCIAL TIMES
O Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) reduziu em 0,25 ponto percentual sua taxa básica de juros, pela terceira vez este ano, mas sinalizou que o relaxamento da política monetária pararia, por enquanto, à espera de números mais claros sobre a economia.
O banco central americano anunciou na quarta-feira (30) que as incertezas quanto às perspectivas econômicas justificavam seu corte mais recente, e o presidente da instituição, Jerome Powell, disse que um acordo preliminar de comércio entre os Estados Unidos e a China, e a redução no risco de um brexit sem acordo tinham o potencial de aumentar a confiança dos empresários.
Depois de uma reunião de dois dias em Washington, o comitê que define as taxas de juros do Fed fez duas mudanças significativas na terminologia de seu comunicado sobre a política monetária. Declarou que “avaliaria o percurso apropriado” para as taxas de juros, em lugar de afirmar que agiria “de forma apropriada a sustentar a expansão”.
O comunicado também informava que o Fed “continuaria a monitorar as implicações das informações que chegam”. As mudanças indicam que o Fed não planeja novo corte dos juros para dezembro.
“O ‘ajuste de meio de ciclo’ nas taxas de juros parece estar encerrado”, disse Ron Temple, diretor de ações americanas na administradora de patrimônio Lazard Asset Management.
“O Fed deu a entender hoje que os cortes de juros vão parar, por enquanto, e os mercados parecem concordar”, acrescentou, apontando que os preços futuros agora indicavam apenas um corte de juros no ano que vem.
O corte, e o sinal de que o comitê de política monetária do Fed vai suspender o relaxamento, surgem em um momento no qual o banco central está ansioso para garantir que tenha margem de manobra quando uma desaceleração econômica se materializar nos Estados Unidos.
O banco está ponderando cuidadosamente os dados reais mensurados, comparados aos temores do que a incerteza política e a desaceleração na economia mundial poderiam causar para os consumidores americanos.
A despeito de um desemprego baixo em termos históricos, de um crescimento sólido dos salários e de consumo decente por parte dos domicílios do país este ano, o Fed já implementou três cortes de juros, de julho para cá. A nova faixa que o banco central definiu para a flutuação dos juros é de entre 1,5% e 1,75%, o que representa um corte total de 0,75 ponto percentual no período.
“Foi um corte linha dura”, disse Peter Tchir, que comanda a área de macroeconomia na Academy Securities. “O comunicado para mim é muito claro no sentido de indicar que a posição do Fed sobre seu caminho futuro não está determinada. Tudo isso aponta para o fato de que podemos esperar uma pausa nos cortes de juros”.
Durante a reunião do Fed na quarta-feira, uma primeira leitura dos números do Departamento do Comércio sobre o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre mostrava uma contração anualizada de 3% no investimento empresarial, a pior desde a recessão industrial de 2015-2016 nos Estados Unidos. O crescimento do consumo pelos domicílios americanos se desacelerou, ainda que tenha continuado positivo, em 2,9%.
Powell descreveu os cortes de juros deste ano como “um ajuste de meio de ciclo”, concebido para prolongar a expansão econômica, e não para combater uma desaceleração. As autoridades monetárias indicaram a década de 1990 como precedente histórico: o Fed reduziu os juros em 0,7% em 1995.
Adicionando um tom mais duro à decisão da quarta-feira, James Bullard, do Fed de St. Louis, não divergiu em favor de um corte mais pesado, como tinha acontecido em setembro. Bullard vinha sendo a principal voz o grupo de membros do Fed que pediam por uma política mais acomodatícia, já que a guerra comercial está desencorajando o investimento em negócios.
Como fizeram nas reuniões do Fed em julho e setembro, Esther George, do Fed de Kansas City, e Eric Rosengren, do Fed de Boston, dissentiram, preferindo deixar as taxas de juros inalteradas.
Em discursos este ano, dirigentes do Fed explicaram essa ação preventiva de duas maneiras. A primeira foi defini-la como uma “apólice de seguros” contra uma guerra comercial que vem desencorajando as empresas de investir. Modelos desenvolvidos por economistas do Fed em setembro demonstravam que, quando as empresas estão incertas sobre as políticas econômicas e não sabem se devem comprar novos equipamentos e construir novas instalações, isso pode gerar um arrasto para o crescimento econômico geral, com o tempo.
De acordo com uma análise do CME Group sobre apostas realizadas quanto à taxa de juros do Fed, na manhã de quarta-feira, os investidores avaliavam em 100% a probabilidade de um corte de juros, suposição que as autoridades monetárias ajudaram a ganhar certeza por meio de uma série de discursos ao longo de outubro.
De forma semelhante, na manhã da quarta-feira, dados de mercado indicavam que os investidores acreditavam que o Fed faria uma pausa depois de seu novo corte. Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos não foram afetados pelo comunicado do banco central. O rendimento sobre o título governamental de 10 anos que serve de referência ao mercado ficou firme em 1,8%. As notas de dois anos, mais sensíveis à política monetária, flutuavam em torno do 1,6%, mais ou menos inalteradas ante seus valores no começo do dia. Os rendimentos dos títulos se movem na direção oposta aos seus preços.
Tradução de Paulo Migliacci