“Há um início de um ciclo de recuperação da economia, impulsionada pelo corte de juros.” Essa é a avaliação de Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Segundo ela, há sinais de que a economia está ganhando tração, e tem espaço para mais, pelo próprio efeito da atual política monetária. “Não é um crescimento de 3,5% ao ano, porque não há questões estruturais que seguram esse patamar e o mundo também não tem ajudado. Agora, o tamanho desse ciclo e a intensidade dele, isso não sabemos. Vai depender de o governo fazer a lição de casa.”
Os indicadores que mostram essa melhora são: aceleração do crédito, inclusive chegando para as empresas de menor porte; avanço disseminado do varejo, que antes estava só na compra de carros; e investimentos começando a aparecer, ainda, porém, concentrados em aquisição de equipamentos da agropecuária.
“Isso, porém, ainda é fruto do corte de juros do Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central de 2016 a fevereiro deste ano). Esse corte de agora, no máximo, pode ajudar na confiança, o que vai refletir mais para a frente. A política monetária tem as suas defasagens”, afirma Zeina. Nesta quarta-feira, 30, o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, para 5% ao ano – o menor nível da história.
Isso tudo aconteceu, segundo a economista, porque as empresas conseguiram melhorar os seus balanços, diminuindo as dívidas em atraso em relação ao faturamento, o que favorece a obtenção de crédito. Zeina alerta que o governo precisa fazer a sua lição de casa da agenda estruturante, como definição de marcos regulatórios, reforma tributária, além de reduzir a insegurança jurídica. “Caso contrário, será apenas um voo de galinha, e bem modesto, porque o mundo não está ajudando.”
Alessandra Kianek, Veja