Reiterou, porém, que o desligamento vai se concretizar até 31 de outubro deste ano, sem “se” ou “mas”, insistindo em sua promessa de campanha –um brexit “do or die” nessa data, ou seja, doa a quem doer.
No primeiro discurso após receber da rainha Elizabeth 2ª a incumbência de formar um governo, o líder conservador afirmou que não deseja um “no deal” (separação sem pacto, o que significaria uma mudança no status da relação entre Londres e a Europa da noite para o dia, sem fase de transição).
Disse acreditar que seja possível alcançar um entendimento que não envolva controles alfandegários na fronteira irlandesa —a do Norte é parte do Reino Unido, a República (ao sul), país-membro da UE.
Isso, desde que a solução não passe pelo “antidemocrático backstop”, o mecanismo que prevê a criação de uma grande união aduaneira temporária para evitar checagens de mercadorias entre sul e norte.
Ninguém quer a volta da fronteira “dura” na ilha, uma das fagulhas de um conflito entre nacionalistas (pró-reunificação das Irlandas) e unionistas (favoráveis à permanência do Norte do Reino Unido) que deixou mais de 3.500 mortos de 1968 a 1998.
O “backstop” é a principal razão (ao menos oficial) para o acordo fechado pela antecessora de Johnson, Theresa May, ter sido recusado três vezes pelo Parlamento britânico, deixando a chefe de governo sem alternativa que não a de renunciar ao cargo.
Os críticos da medida argumentam que ela ataria o Reino Unido ao bloco europeu por tempo indeterminado, comprometendo sua soberania –é fato que, dentro da união aduaneira, Londres não poderia fechar acordos comerciais por conta própria.
A UE tem dito repetidamente, e novamente após a vitória de Johnson, que o dispositivo não será abandonado.
O brexit deveria ter acontecido no fim de março deste ano. Como May não conseguia convencer seus deputados a endossar o pacto acertado com a UE, foi adiado por algumas semanas, e mais tarde, por alguns meses.
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“Vamos fazer um novo acordo, um acordo melhor que vai ampliar as oportunidades do brexit ao mesmo tempo em que vai nos permitir desenvolver uma relação nova e estimulante com o resto da Europa, com base em livre-comércio e apoio mútuo”, afirmou Johnson.
Segundo ele, “chegou a hora de agir, de tomar decisões, de fornecer uma liderança firme”. Foi uma estocada em sua antecessora, tida por opositores e mesmo correligionários como insegura e demasiado propensa a buscar consensos impossíveis.
Em outro momento, o novo premiê disse que “o problema dos últimos três anos [período transcorrido desde o plebiscito que determinou a saída da UE e também tempo que May passou no cargo] não foram as decisões tomadas, mas a falta delas”.
Fazendo um aceno aos partidários do brexit, Johnson acrescentou que, “em caso de ‘no deal’, teremos uma injeção de recursos de 39 milhões de libras”. Ele se refere à multa que Londres deveria pagar ao bloco do qual tenta se desvencilhar, se houvesse um acordo (e um “acerto de contas”) antes da despedida.
No trecho de sua fala dedicado a temas que não o desligamento britânico da UE, o novo chefe de governo afirmou que irá contratar 20 mil policiais, aumentar os recursos destinados à educação básica e aliviar a carga tributária para estimular investimento e inovação.
Mas não deu detalhes de quaisquer dessas iniciativas. Preferiu o otimismo genérico que caracterizou sua campanha: “Não vou dizer que não vá haver dificuldades pela frente, mas, com energia e determinação, elas serão menos sérias”.
E emendou: “Quem apostar contra o Reino Unido vai perder tudo”.