O presidente americano, Donald Trump, é conhecido por sua metralhadora giratória verbal, acionada com frequência quando se trata de criticar o protecionismo de outros países contra exportações dos Estados Unidos.
Na segunda-feira, chegou a vez de o Brasil virar alvo. Ao conceder entrevista coletiva depois do entendimento a que chegou com o Canadá e México sobre a revisão do acordo comercial Nafta, rebatizado de USMCA (Estados Unidos, México e Canadá), Trump repetiu seu discuso contra os parceiros comerciais China e Europa, incluindo na lista Índia e Brasil.
Com relação ao país, disse ser o Brasil “um dos mais difíceis do mundo, talvez o mais duro”, no campo do comércio, no entender de empresas americanas. “Eles cobram de nós o que querem.”
Na verdade, os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial brasileiro — só abaixo da China —, obtiveram, nos primeiros sete meses deste ano, com o país, um superávit de US$ 3,2 bilhões, depois de terem acumulado um déficit de US$ 2 bilhões em 2017. Mas Trump tem razão, do ponto de vista do fechamento da economia brasileira.
Há diversos rankings sobre isto. Um deles, o Índice de Liberdade Econômica, da Fundação Heritage, coloca o país em 153º lugar, entre 180 nações.
Outro indicador do atraso do país na integração à economia mundial é que ele tem o PIB entre os dez maiores e uma ínfima participação de pouco mais de 1% no comércio global.
Trata-se do reflexo de uma clássica cultura de proteção do mercado interno, reservado a empresas instaladas no país. Uma mentalidade protecionista, cartorial, arraigada na direita e na esquerda.
Há várias marcas negativas na economia brasileira derivadas deste arcaísmo: grande dependência das exportações de produtos primários — minérios e agropecuária — e baixa importância relativa das vendas ao exterior de bens manufaturados.
Reflexo da falta de mais conexões a cadeias globais de produção. Logo, produtividade baixa, menos empregos. Outro problema para a agenda do próximo presidente.