segunda-feira, 1 de outubro de 2018

'Tem que tirar o poder de investigação do Ministério Público', afirma Dirceu, capitão da organização criminosa do Lula, condenado a mais de 30 anos no xilindró, mas mantido solto pelo STF



O ex-ministro José Dirceu 29/08/2018 - Givaldo Barbosa / Agência O Globo


Condenado na Lava-Jato a mais de trinta anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, o ex-ministro petista José Dirceu criticou neste sábado a atuação do Ministério Público, o órgão responsável por tê-lo denunciado em diferentes investigações. Em entrevista ao portal AZ, do Piauí, o petista afirmou que o Ministério Público se tornou “uma polícia política” e que, por causa disso, é preciso “tirar o poder de investigação” do órgão.

Para o petista, que está solto desde junho, por ordem da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o MP se tornou uma “corporação com os maiores privilégios do Brasil” quando deveria limitar-se à tarefa de “acusar”. Para fundamentar suas críticas ao MP, o petista diz apoiar-se nas críticas feitas pelo ministro Gilmar Mendes que, segundo ele, também “tem criticado isso”.

— O Supremo, em 2016, deu poder de investigação ao Ministério Público. Qual é o resultado? Agora há investigações sigilosas. Inclusive o ministro Gilmar Mendes tem criticado isso. Tem que tirar o poder de investigação do Ministério Público. O Ministério Público só é para acusar. O Ministério Público virou uma polícia política. Não há controle nenhum. E mais: uma corporação com os maiores privilégios do Brasil.

Questionado pelo GLOBO sobre suas críticas ao Ministério Público, Dirceu reafirmou a fala:

– Não falei nada extraordinário. Não estou querendo impedir que o MP atue na Lava-Jato. 

Estou discutindo em geral. O MP não pode investigar e acusar – disse ao GLOBO.
Na entrevista no Piauí, o petista afirmou ainda que a folha de pagamento de um procurador "é um escândalo" e que a "corporação" de procuradores foi a mais empenhada em fazer lobby contra a reforma da Previdência.

— O Ministério Público não pode investigar. Ele acusa. Quem investiga é a Polícia Federal e a Polícia Civil. Quem decidiu isso? A Constituinte. Eles perderam isso. O Ministério Público foi lá, em todas as sessões da Constituinte (e perdeu).

Dirceu vem percorrendo diferentes regiões do país para divulgar sua biografia e debater as eleições presidenciais com militantes do PT. Na entrevista ao portal piauiense, o petista ataca a Operação Lava-Jato e sustenta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é perseguido pelo Judiciário.

— Quando o Lula defende os interesses das empresas brasileiras no exterior ele está defendendo o Brasil. Não está defendendo a empresa – disse Dirceu, referindo-se ao fato de o ex-presidente ter sido investigado por receber milhões de reais de empreiteiras para supostamente fazer lobby em favor delas junto a presidentes desses países.

Dirceu disse ainda que não há provas contra Lula no processo em que o ex-presidente foi condenado. O petista afirma ainda que a Lava-Jato é uma das grandes responsáveis pela "estagnação econômica que o país vive". E diz que Lula estava certo quando defendia as empresas no exterior.

Para Dirceu, o combate à corrupção na Lava-Jato tem "fins políticos" e viola "as leis e a Constituição".

— A Lava-Jato se transformou num dos maiores erros do país. Isso daí, o balanço vai ficar claro. Todos os empresários fizeram delação e ficaram com os seus bens. Todas as empresas quebraram ou estão inabilitadas ou estão praticamente paralisadas. O Brasil estava se transformando no maior construtor de siderúrgicas, de estaleiros, rodovias, ferrovias, metrôs e aeroportos na América Latina; hoje não se constrói mais nada.

Bruno Góes e Bela Megale, O Globo