Em sua delação premiada à Polícia Federal,
ex-ministro relata que amigo de Luiz Marinho
e de Lula comandou o setor na estatal entre
2003 e 2015
O ex-ministro Antonio Palocci (governos Lula e Dilma) afirmou em depoimento à Polícia Federal que o sindicalista Wilson Santarosa, ex-gerente executivo de Comunicação Institucional da Petrobrás, operou um esquema que desviava cerca de 3% dos valores dos contratos de publicidade e marketing da estatal para o PT.
Santarosa é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, segundo Palocci, era ligado ao também sindicalista e atual candidato do PT ao governo de São Paulo, Luiz Marinho, e ao ex-prefeito de Campinas e ex-presidente do Sindicatos dos Petroleiros, Jacó Bittar. Santarosa comandou o setor de publicidade da Petrobrás entre 2003, primeiro ano do primeiro governo Lula, e março de 2015, início do segundo mandato de Dilma Rousseff.
O depoimento de Palocci foi concedido no dia 13 de abril deste ano na Superintendência Regional da PF no Paraná, mas apenas o primeiro termo da delação premiada do ex-ministro celebrada com a Força-Tarefa da Operação Lava Jato teve o sigilo levantado nesta segunda-feira, 1º, pelo juiz Sérgio Moro. O ex-ministro está preso em Curitiba desde setembro de 2016 e já foi condenado a 12 anos 2 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Segundo Palocci, os recursos desviados dos contratos de publicidade da Petrobrás eram repassados aos tesoureiros do PT, como Delúbio Soares e João Vaccari. Aos investigadores, o ex-ministro disse não acreditar que Santarosa ficava com parte do dinheiro para si, mas direcionava os recursos ilícitos para o partido. Os detalhes sobre esse esquema serão contados por Palocci em outro termo de cooperação.
Santarosa foi um dos principais nomes do PT na cúpula da Petrobrás nos governos Lula e Dilma. O ex-gerente era responsável pela verba de patrocínio e publicidade da estatal, cujo orçamento era superior a R$ 1 bilhão, e também ocupou a presidência do Conselho Deliberativo da Petros, fundo de previdência da estatal.
O ex-gerente já foi acusado de envolvimento em um suposto esquema de fabricação de dossiês contra políticos tucanos, nas eleições de 2006. A distribuição de patrocínios da estatal também foi questionada em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) de 2009. O texto indicava irregularidades no repasses a ONGs e favorecimento partidário.
COM A PALAVRA, LUIZ MARINHO
“Sobre a delação de Antonio Palocci afirmo que conheco o Wilson Santarosa como militante sindical dos petroleiros e nunca o indiquei a cargo na Petrobras ou a qualquer outro.”
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, QUE DEFENDE LULA
A conduta adotada hoje pelo juiz Sérgio Moro na Ação Penal nº 5063130-17.2016.4.04.7000 apenas reforça o caráter político dos processos e da condenação injusta imposta ao ex-presidente Lula.
Moro juntou ao processo, por iniciativa própria (“de ofício”), depoimento prestado pelo Sr. Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público. Além disso, a hipótese acusatória foi destruída pelas provas constituídas nos autos, inclusive por laudos periciais.
Palocci, por seu turno, mentiu mais uma vez, sem apresentar nenhuma prova, sobre Lula para obter generosos benefícios que vão da redução substancial de sua pena – 2/3 com a possibilidade de “perdão judicial” – e da manutenção de parte substancial dos valores encontrados em suas contas bancárias.
Cristiano Zanin Martins
Fabio Leite, O Estado de São Paulo