Em todas as suas aparições, José Dirceu vem dando um tremendo apoio a Fernando Haddad. Mas o que o presidenciável do PT precisa mesmo é que Dirceu não apareça tanto. Ele adquiriu o hábito de dizer em público o que antes era cochichado pelos petistas apenas à sombra.
Condenado em segunda instância a mais de 30 anos de cadeia, Dirceu está solto graças à benevolência da Segunda Turma do Supremo. Percorre o país como caixeiro viajante de uma biografia que escreveu na prisão. Espalha declarações tóxicas por onde passa.
Em entrevista ao portal piauiense AZ, Dirceu criticou procuradores da República e desqualificou a Lava Jato. Para ele, é preciso “tirar o poder de investigação” do Ministério Público, pois o órgão virou “uma polícia política”. Acha que a operação nascida em Curitiba tornou-se “um dos maiores erros do país” e tem grande responsabilidade na ''estagnação econômica que o país vive''.
Antes, em conversa com o jornal El Pais, Dirceu afirmara que não acredita em uma vitória de Jair Bolsonaro. Insinuara que a chegada do capitão ao poder poderia levar o PT a trafegar por caminhos alternativos à democracia.
“Acho improvável que o Brasil caminhará para um desastre total”, dissera Dirceu. “Na comunidade internacional isso não vai ser aceito. E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição.”
Mal comparando, Dirceu exerce na trincheira de Haddad um papel semelhante ao que o general Hamilton Mourão desempenha na tropa de Bolsonaro. Ambos cuidam do departamento responsável pelo disparo de tiros contra o próprio pé.
Num instante em que Haddad critica Bolsonaro por afirmar que não aceita outro resultado das urnas eletrônicas que não sua vitória, fica difícil justificar uma declaração como “nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição.”
Na última semana do primeiro turno, o PT faria um favor a Fernando Haddad se desligasse José Dirceu da tomada.
Com Blog do Josias, UOL