Sessenta e dois por cento dos brasileiros que trabalham na indústria de manufatura temem perder seus empregos para robôs no prazo de dez anos, indica pesquisa recente realizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a organização Latinobarómetro.
Apesar disso, seis em cada dez pesquisados se dizem confortáveis com a educação que receberam e se consideram preparados para os empregos no futuro. Uma percepção oposta aos indicadores que colocam o País em posições baixas nos rankings de desenvolvimento de capital humano.
Esse é um grande desafio para o próximo governante do Brasil, avalia Ana Inés Basco, especialista sobre indústria 4.0 do Instituto para a Integração da América Latina e o Caribe (Intal) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “O Brasil tem uma oportunidade enorme de liderar essa mudança na região”, diz ela, referindo-se à transição da indústria tradicional para a que utiliza tecnologia de ponta. No entanto, é preciso dar prioridade ao desenvolvimento das habilidades para o trabalho do futuro e para uma distribuição “justa” dos ganhos advindos das novas tecnologias.
Para a especialista, que está no Brasil para proferir palestra no Congresso Internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), que começa nesta quarta-feira, 17, em São Paulo, o receio dos brasileiros e dos latino-americanos em geral quanto à perda de empregos para robôs são um tanto exagerados. Em vez de desaparecer, o mais provável é que as vagas de trabalho mudem.
“Se aprendemos algo nos últimos anos foi que a questão (o impacto da robotização) não é tanto sobre setores, nem mesmo sobre profissões, mas sobre tarefas”, disse. “Tarefas repetitivas, tanto manuais quanto cognitivas, tais como atender ao telefone, levantar ou mover itens, interpretar mapas tendem a ser automatizados.”
No entanto, há um conjunto de tarefas que exigem habilidades interpessoais, criativas e de gerência que continuarão a ser executadas por humanos. E, diz ela, os trabalhadores geralmente executam uma mistura dessas duas coisas.
Assim, a tendência mais forte não é a de extinção de empregos, e sim a mudança na forma de trabalhar, com redução de tarefas repetitivas. Uma outra pesquisa de que participou, chamada “Planeta Algoritmo”, reúne evidências que dois terços do impacto das novas tecnologias se darão dentro de um mesmo emprego.
Na indústria têxtil, por exemplo, já é amplo o uso de máquinas para cortar tecidos. Mas as tarefas de costurar e pregar acabamentos ainda são desempenhadas por humanos. A tendência é que essa parte da produção também seja robotizada. Assim, as pessoas vão dedicar-se a funções como design e vendas.
Apesar de estar atrás de países de renda semelhante no desenvolvimento de capital humano, o Brasil está bem colocado em outros requisitos como investimentos em pesquisa e desenvolvimento, quantidade de pesquisadores e patentes per capita, diversificação de exportações, complexidade econômica e penetração da internet e o e-commerce. Isso o coloca em posição relativamente boa, comparado aos demais países da região.
Lu Aiko Otta, O Estado de S.Paulo