Tal qual um satírico Gregório de Mattos perdido no tempo, o governador Rui Costa (PT) – dotado de uma até agora desconhecida veia mordaz e provocadora ao estilo do “Boca de Brasa”, da Bahia do Século XVII – bateu o martelo, esta semana, na composição da chapa majoritária “vermelha e azul” (em sua definição marqueteira da composição de centro esquerda), pela qual disputará as eleições deste ano, para permanecer no comando do governo do Estado, por mais um mandato. No entanto, como no “Samba do Crioulo Doido”, de Stanislaw Ponte Preta, mestre da sátira do século XX, “o bode que deu vou te contar”.
Das duas vagas para o Senado, uma será do “vermelho” Jaques Wagner, o “galego” – amigo do peito do ex-presidente Lula, que cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – padrinho político do governador. A outra é do “azul” Ângelo Coronel, atual presidente da Assembléia Legislativa, afilhado do senador, chefe estadual do PSD, Otto Alencar (ex-carlista de quatro costados, quando o falecido ACM era quem mandava na Bahia). A senadora do PSB, Lídice da Mata, “vermelha” que sempre sonhou com a reeleição sob os auspícios dos históricos aliados petistas, foi largada na beira da estrada, pelos velhos companheiros da esquerda, igual, mal comparando (ou bem?) a um guerreiro alquebrado que não serve mais.
Na chapa, o posto de vice foi mantido com o “azul” João Leão (PP), folclórico chefe político conservador da Região Metropolitana de Salvador, atualmente no posto de secretário estadual de Planejamento, onde se apresenta como “um construtor de pontes” e aposta que a Salvador-Itaparica será construída, com dinheiro dos chineses para pagar as empreiteiras, custe o que custar. Mais que motivo de desconfianças, uma ofensa à memória do notável escritor João Ubaldo Ribeiro, autor de “Viva o Povo Brasileiro”, itaparicano que combateu a obra faraônica e suspeita até a morte.
Esta semana, Rui Costa jogou álcool misturado com éter sobre os toros de madeira mal arrumados da chapa anunciada. O governador escolheu o ato de inauguração de nova unidade no Hospital Roberto Santos para comentar pela primeira vez, com jornalistas, reações negativas, choros e lamentos, frente às escolhas feitas por ele, em especial a opção preferencial por Coronel, que abateu Lídice.
Mais parecendo um esculápio desastrado, dos encrespados dias atuais, que o vate boca do inferno do período imperial,, o governador fez simbologia, ao falar das reações da companheira socialista largada ao relento, mesmo sendo ela o nome preferidoa por 8 entre 10 maiorais locais e nacionais do PT, a começar pela presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann.
Ainda no hospital, o governador disse entender o choro da senadora e de seu partido, mas não parou aí. Acrescentou na conversa com repórteres e colunistas políticos, que não faz sentido que alguém que tomou uma injeção não possa chorar. Infeliz metáfora que fez o incêndio alastrar-se “nas esquerdas”. Não falta quem diga que Rui Costa agiu com a soberba do dono do último acarajé do tabuleiro – para usar a imagem de um personagem da novela “Segundo Sol”. O candidato petista à reeleição vai precisar de muitos “panos quentes” para apagar as chamas que ele provocou na Bahia, antes do embate com o prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, candidato de ACM Neto (DEM) ao Palácio de Ondina começar. A conferir.
Vitor Hugo Soares é jornalista
Por Vitor Hugo Soares, Blog do Noblat