quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Equipe de Trump está em sintonia com elite financeira dos EUA

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER - Folha de São Paulo


Donald Trump construiu sua campanha com a imagem de "outsider" que prometia "drenar o pântano", alusão ao corredor do poder entre Washington e Wall Street.

A julgar pelo gabinete que vem montando, o presidente eleito quer remover o lamaçal mas deixar os jacarés, acusam seus críticos.

Na quarta (30), deu amostras de que seu time econômico estará em sintonia com a elite financeira.

Evan Vucci/Associated Press
Steven Mnuchin, escolhido por Trump para secretário do Tesouro, fala com jornalistas na Trump Tower
Steven Mnuchin, escolhido por Trump para secretário do Tesouro, fala com jornalistas na Trump Tower

Wilbur Ross, um investidor bilionário que ajudou quando cassinos de Trump faliram nos anos 1990, foi indicado para secretário do Comércio, tendo como braço-direito Todd Ricketts, dono do time de beisebol Chicago Cubs.

Um dos capítulos mais sombrios da carreira de Ross ocorreu em 2006, quando 12 mineiros morreram numa explosão numa mina de carvão sua, em Virgínia Ocidental.

Apontado para o Tesouro, Steven Mnuchin tem extenso currículo em Hollywood –o site IMDB, referência no cinema, credita-o como produtor de 34 filmes, entre eles "Avatar", maior bilheteria da história (US$ 2,7 bilhões).

É também banqueiro. Foi por 17 anos do Goldman Sachs e, já fora do banco, lucrou com a bolha imobiliária dos anos 2000, comprando por títulos desvalorizados.

A senadora Elizabeth Warren chamou-o de "Forrest Gump das crises financeiras", e o partido Democrata definiu a indicação como "um tapa na cara dos eleitores que acreditaram em Trump para sacudir Washington".

Tanto Mnuchin quanto Ross são entusiastas do corte drástico nos impostos. Na campanha, Trump defendeu enxugamento tributário de US$ 6 trilhões ao longo de uma década e disse que a classe média seria a maior beneficiada. Especialistas, contudo, estimam quase metade da tesourada contemplaria o 1% mais rico da população.

Enquanto defende secar a fonte de receita, Trump acena com gastos estatais para infraestrutura e militares. Diz que verbas não faltarão numa economia aquecida.

Até porque outros campos podem depender menos de fundos federais. Trump entregou a Educação a Betsy DeVos, uma bilionária que zela pela privatização do ensino.

"A sra. DeVos nunca frequentou uma escola pública nem enviou seus filhos a uma, jamais estudou educação e não ensinou um dia sequer em sua vida", diz Daniel Katz, presidente do Departamento de Estudos Educacionais da Seton Hall University (Nova Jersey).

Para ele, a contribuição daquela que chama de "secretária da privatização" será deslocar gastos públicos para instituições privadas e religiosas –os mais pobres receberiam "vales-ensino" para custear a educação.

A Saúde ficou nas mãos de nomes alérgicos ao Obamacare, lei que obriga todo americano a ter seguro na área, num programa gerido pelo governo, com subsídios.

Veterano no Congresso e crítico de longa data do Obamacare, o deputado Tom Price chefiará a pasta; Seema Verma assumirá assistências federais como o Medicare (para os acima de 65) e Medicaid (para os de baixa renda).

Dona de uma consultoria, ela virou queridinha do vice de Trump, Mike Pence (que governava o Arizona), e outros governadores republicanos. Agradou a ideia de embutir elementos conservadores nos braços estaduais desses benefícios –entre eles, pedir que as pessoas paguem parte do tratamento médico.

Trump também nomeou velhos jogadores da política tradicional, como o presidente do Partido Republicano, Reince Priebus (chefe de gabinete), e Elaine Chao (Transportes), casada com o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell.