20.dez.1956/Folhapress | |
Público aglomerado após sessão de "'Ao Balanço das Horas"' em 1956, no Cine Paulista
Os 60 anos da estreia em São Paulo de "Ao Balanço das Horas", primeiro filme a mostrar "a dança selvagem do rock and roll", em dezembro de 1956, tornam hoje deliciosas as reportagens a respeito nos jornais da época.
Segundo estes, houve "cenas deprimentes" num cinema da rua Augusta, com os jovens batendo os pés, dançando nas cadeiras, quebrando tudo e desafiando a polícia, para a qual a plateia tinha de se comportar como se assistisse a "A Dama e o Vagabundo".
Não era algo espontâneo. O filme vinha provocando essa reação desde seu lançamento nos EUA, oito meses antes, estimulada pelos produtores, e cada cidade tentava se superar em tumulto. Um delegado paulistano colaborou subindo a censura do filme, de 14 para 18 anos —na Finlândia, era 8. Ao assisti-lo hoje, você concordará com os finlandeses.
"Ao Balanço das Horas" existe em DVD no Brasil. É um humilde filme C —seu diretor, Fred Sears, fazia os faroestes do Durango Kid. Dura 77 minutos, metade deles música. Bill Haley e seus Cometas tocam oito números, entre os quais "Rock Around the Clock" (já estourado na trilha de "Sementes de Violência", um ano antes), "See You Later, Aligator" e "Razzle-Dazzle". Tudo em ostensivo playback.
O simpático Haley tinha 30 anos, era cego de um olho, usava um pega-rapaz na testa e já começara sua carreira de pai extremado —dez filhos! O melhor de sua música era a forte marcação rítmica, que realmente convidava a dançar, e o saxofonista Rudy Pompilli. Mas Haley foi apenas o primeiro branco a se dar bem com o rhythm and blues que os negros já tocavam, só que agora chamado de rock and roll.
Quanto àquela dança acrobática, era também o mesmo jitterbug que já vinha das big bands dos anos 30 e 40, e não era para qualquer um. Mas servia para os meninos queimarem a libido.
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sábado, 31 de dezembro de 2016
Ruy Castro: "Queimando a libido"
Folha de São Paulo