sábado, 2 de maio de 2015

"Brasil tem de ser mais produtivo também nos serviços", editorial de O Globo

Na década de 1980, o país estava bem à frente da China e empatava com a Coreia do Sul nesses segmentos. Agora está ficando para trás, com raras exceções


Os serviços respondem pela maior parte das ocupações e da geração de renda na economia mundial, embora os chamados setores primários (agricultura, pecuária, extração mineral, etc.) e secundário (indústria) estejam na base do que é produzido e transformado para consumo final. Até mesmo a China, que se tornou a grande fornecedora de produtos industriais para todos os mercados nas últimas décadas, tem hoje a maior parcela do seu Produto Interno Bruto (PIB) calcado nos serviços.

Serviços permanecem como os segmentos mais protegidos da concorrência externa por diversos países e são item permanente da pauta de negociações internacionais de livre comércio, no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio). Serviços pessoais, especialmente, são considerados “não comercializáveis”, pela dificuldade física de exportação ou importação, restringindo-se assim aos mercados internos.

De qualquer forma, os serviços em geral, juntamente com a infraestrutura, é que acabam definindo a dinâmica da economia. Da eficiência dos serviços dependem os demais segmentos que concentram os bens “comercializáveis”.

No entanto, quando se avalia a produtividade, a indústria sempre aparece como foco principal (talvez pela facilidade de se construir indicadores). Pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, preencheram essa lacuna com um estudo comparativo da produtividade dos serviços no Brasil, na China e na Coreia do Sul. E as evidências empíricas se confirmaram nesse trabalho, com o Brasil ficando também para trás na produtividade dos serviços.

Em 1980, quando o país ainda não se abrira para o mundo, a produtividade dos serviços na China equivalia a apenas 11% dos indicadores registrados no Brasil. Atualmente, esses índices se equivalem. No caso da Coreia do Sul, o Brasil, que em 1980 estava no mesmo patamar, hoje tem uma produtividade que corresponde apenas a 38% da que o país asiático revela no setor de serviços.

Entre as razões dessa perda de posição é a qualificação profissional dos que trabalham no segmento ou prestam serviços diretamente, com raras exceções. Na intermediação financeira, o percentual de profissionais altamente qualificados (61%) supera por boa margem o da Coreia do Sul (42%). Não é por mera coincidência que o sistema financeiro brasileiro tem padrões muitos próximos aos de economias mais avançadas do planeta.

A educação e a formação profissional continuam sendo elos frágeis da economia brasileira. Porém, há outros que explicam essas defasagens, e um importante é a falta de entrosamento dos serviços com a indústria. Se esses segmentos se entrosassem mais, parte das deficiências decorrentes da baixa qualificação profissional poderia ser contornada.