No primeiro semestre, dois dos principais levantamentos sobre a construção civil, feitos pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), mostraram que o setor reduziu o ritmo de atividade, deixou de contratar pessoal e passou a encarar o futuro com pessimismo. De fato, não se deveria esperar que a construção civil fosse um caso isolado num cenário de desaceleração generalizada. Mas, como o setor tem peso relevante (de cerca de 30%) na taxa de investimento, ou seja, na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), seu desaquecimento terá reflexos negativos no Produto Interno Bruto (PIB).
No primeiro trimestre, segundo o IBGE, o PIB da construção civil caiu 0,9% - e as projeções do Relatório de Inflação do Banco Central (BC), divulgado quinta-feira, são de um declínio de 2,2% em 2014 e de 1,5% em 2015. Nos dois casos, um comportamento pior que o da economia. As perspectivas do BC estão em sincronia com as pesquisas da CNI e da FGV.
Em maio, a utilização da capacidade da indústria da construção foi de apenas 70%, segundo a Sondagem Indústria da Construção, da CNI.
Tanto os índices de nível de atividade como o de atividade em relação à usual e de número de empregados foram inferiores a 50% - o nível que separa a faixa positiva da negativa. As expectativas das grandes empresas ainda são positivas, mas muito próximas do patamar de 50%, enquanto as pequenas e médias empresas estão mais pessimistas. Na melhor das hipóteses, as empresas manterão o quadro de funcionários.
Em junho, segundo a Sondagem da Construção, da FGV, feita com 698 empresas, o Índice de Confiança da Construção caiu pelo quarto mês consecutivo: de -3,3%, em abril, para -9,8%. Pioraram as expectativas de 10 segmentos da construção, dos 11 analisados. Os destaques negativos foram a preparação de terreno - ou seja, a atividade que marca o início de uma construção - e as obras de acabamento, o que sugere problemas de caixa.
No mês passado, a situação atual dos negócios foi vista como ruim por 16,5% dos entrevistados, ante 14,7%, em junho de 2013. Cresceu também o porcentual dos entrevistados que esperam redução da demanda nos próximos três meses e uma tendência pior de negócios no segundo semestre.
A construção civil emprega 3,5 milhões de pessoas, calcula o Sinduscon-SP. E isso mostra o efeito econômico e social da piora do setor.